Alfredo Krause, o nosso primeiro taxidermista

Pioneiros 09 de Abril de 2019

Este rondonense, de nascença em Santa Catarina, foi um hábil taxidermista com atuação por décadas na cidade de Marechal Cândido Rondon. 

O texto adiante , de Harto Viteck, descreve este artista e sua contribuição para o bem da Ciência. 


Alfredo Krause - pioneiro rondonense que prestou relevantes serviços à Ciência.

Alfredo Krause - pioneiro rondonense que prestou relevantes serviços à Ciência.


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Seus trabalhos estão espalhados mundo afora, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, em especial na Alemanha. No Brasil, em diversos Estados. No Paraná, os animais que empalhou podem ser vistos no Museu Sete Quedas¹, em Guaíra (coleção completa²), no museu de Foz do Iguaçu (no momento fechado), no Museu de História Natural de Curitiba, na Universidade Estadual de Maringa e em outras instituições paranaenses.

¹ O Museu Sete Quedas foi inaugurado em 09 de março de 2006  e está localizado para antiga sede administrativa da Cia. Matte Larangeira. A administração da instituição é da Prefeitura Municipal local. A coleção de animais taxidermizados existente no museu foi doada pelo casal de ascendência japonesa, Shinjiro Matsuyama e sua esposa Yoshiro Murakami Matsuyama, comerciantes na cidade de Guaíra, que formaram o conjunto de peças a partir de encomendas feitas a Alfredo Krause (Straube & Urben Filho, 2010).  

² O filho de Alfredo, Clécio Krause, chama atenção que a coleção de animais taxidermizadas no Museu da cidade de Guaíra, é incompleta. Recorda que havia um casal de macacos lanudos e sagüis de várias especiais, os quais não avistou em sua visita ao citado museu. 

Fora as peças fornecidas para instituições de cunho científico, centenas de animais taxidermizadas por Alfredo Krause, principalmente aves, foram levados de Marechal Cândido Rondon como presentes e lembranças.

Em Marechal Cândido Rondon, grande admirador do seu trabalho foi o Dr. Friedrich Rupprecht Seyboth, que possuia uma boa coleção de trabalhos.

Alfredo Krause veio pela primeira vez a Marechal Cândido Rondon para conhecer a região em 1951. Segundo informação do filho Clécio¹, morador há 34 anos na cidade de Naranjal, no Paraguai, seu pai logo se agradou com o que viu e se cogitava para o futuro. "O pai gostou tanto do projeto de colonização da Maripá que voltou a Piratuba, em Santa Ctarina, e tratou logo de mudar-se para o Paraná, o que aconteceu no ano seguinte. Meus pais, junto com a minha irmã Erci, chegaram de mudança em Marechal Cândido Rondonno dia 24 de julho de 1952, após 18 dias de viagem. Por causa de chuvas o caminhão com a mudança ficou atolado durante quinze dias numa estrada, no município de Chopinzinho, no Sudoeste do Paraná", lembra Clécio. 

¹ É nascido em Marechal Cândido Rondon. A sua irmã Erci hoje reside em Puente Kihja, Paraguai, e é casada com Pedro Acunha, nascido em Pato Bragado. 

Ao chegar a vila de General Rondon, a família foi morar no barracão comunitário da Maripá e meses depois numa residência próxima a atual Delegacia de Polícia onde permaneceu até 1955 quando concluiu a moradia própria junto a chácara que adquiriu, onde hoje está instalada a revendedora Chevrolet, à Aevnida Irio Jacob Welp.

Alfredo Krause nasceu em Canela (RS), em 19 de dezembro de 1919, filho de Maria (nascida Wolff) e Rudolfo Krause. Aos 12 anos, mudou-se com seus pais para Piratuba (SC), fixando residência na localidade de Filadélfia. Ali casou-s com Elli Arndt, filha de Edmundo Emilio Arndt e Amália Diesel (irmã do pioneiro rondonense Afonso Diesel, em 04 de outubro de 1947.

Em Marechal Cândido Rondon, paralaelamente à profissão de taxidermista - a sua grande especialidade -, Alfredo Krause foi fotógrafo até 1955. Muitas imagens do começo da vila General Rondon foram feitas por ele. 

Ele deixou de empalhar animais em 1972, devido a problemas de saúde, decorrente do uso de arsênico na taxidermização, produto químico que afeta o aparelho respiratório. A arte de taxidermia o rondonense pioneiro aprendeu com um tio.

Viagem à Amazônia

Em setembro de 1961 o Pastor Richter, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - a IECLB -, da qual a nossa comunidade Martin Luther é integrante, por recomendação de seus superiores começou no Norte do Mato Grosso uma obra missionária junto aos índios Erigpactsa, às margens do Rio Juruena, distante mil quilômetros de sua foz no Rio Amazonas.

Joachim Pawelke, pastor da comunidade evangélica de Marechal Cândido Rondon, em 1964, foi incumbido pela direção da IECLB para acompanhar o Pastor Richter para realizarem uma reavalização do projeto de evangelização da Igreja na bacia amazônica.

A propósito de como encontrou a obra missionário, o pastor rondonense relata: O Posto Missionário; uma clareira de 5 hectares, aberta no meio da mara virgem. A terra é cultivada com milho, mandioca, bananeira, algumas espécies de árvores frutíferas e pés de eucaliptos. Das `13´ habitações, cinco são de pau-a-pique, o telhado é coberto de folhas de palmeira. O restante é feito totalmente de folhas. Fora o administrador, um velho seringueiro, encontramos ainda três crianças indígenas. Há uma ano moravam aqui no posto 50 pessoas. Após a saída do Pastor Richter e seu colaborador os índios se retiraram outra vez para o interior da mata, ou foram levados para uma missão católica ou a um posto de americanos evangélicos" (PAWELKE, 1970, pp. 74 e 75). 

Por causa dos enormes sacrifícios e os altos custos que representavam a manutenção da obra missionária entre os Erigpactsa, a IECLB decidiu em 1969 fechar o posto, conforme descreve Pawelke: (...) a tribo dos erigpactsa vive numa região de cerca de 500 km de diâmetro. Por coincidência os católicos e evangélicos começaram a missionar a mesma tribo, cada uma num extremo diferente. Para não causar cisão religiosa entre os indígenas a nossa Igreja resolveu, em combinação com os jesuítas em São Leopoldo, entregar os posto evangélico à missão católica. Desta forma a nossa Igreja pode concentrar todo o seu esforço e atenção para a reserva indígena existente em Tenente Portela², onde há um trabalho muito frutífero" (Ibid, p. 182, 1970). 

A primeira viagem do Pastor Joachim Pawelke e comitiva ao Rio Juruena foi organizada a partir de Marechal Cândido Rondon: "Partida de Rondon com a "Combi (sic) da Missão. Participante da viagem: Pastor Richter , o preparador de um museu, um menino índio e eu (ibidem, p. 72, 1970). 

O preparador a que se refere Pawelke era rondonense Alfredo Krause, informa o filho Clécio Krause. Segundo ele, seu pai viajou à bacia amazônica em duas ocasiões: em 1964 acompanhando a comitiva do pastor Pawelke e, a segunda, em 1966, sozinho, ao Rio Machado, Rondônia. Nas duas viagens foi em busca de animais para serem taxidermizados, em especial para a coleção do Museu Sete Quedas, em Guaíra, ao qual prestava serviços. Alguns exemplares também foram para outras instituições e particulares. 

Comenta Clecio que durante as viagens à região da bacia amazônica, o seu pai coletou espécimes ainda desconhecidas, as quais foram descritas cientificamente a partir do exemplares coletados. 

Como relatado, o uso do arsênico no trabalho de taxidermia teve consequências severas na saúde de Alfredo Krause, atingindo principalmente o sistema respiratório, sequelas que levaram à morte em 22 de julho de 2005, aos 72 anos. Ao falecer residia na cidade de Pato Bragado³, onde foi sepultado . A sua esposa Elli, faleceu em 05 de abril de 2016 e foi sepultada ta,ném no cemitério bragadense. 

³ Informou o filho Clecio, via mensagem pelo Facebook, que seus pais foram residir em Pato Bragado, em 1992. Antes, moraram uma curta temporada na República Paraguai, período sobre o qual seu pai não gostava fazer comentários. 

Fontes consultadas:

1. PAWELKE, Joachim. Ficando Rico no Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon, 1970. 

2. STRAUBE. Fernando C; URBEN-FILHO, Alberto. Comentários e retificações sobre o único registro de Morphnus guianensis (Daudin. 1800) para o Paraná. Atualidades Ornitológicas Nº 157 - Setembro/Outubro 2010 - www.ao.com.br

 

*O texto transcrito sobre Alfredo Krause foi publicado inicialmente na coluna do jornalista Harto Viteck, no jornal O Presente, de Marechal Cândido Rondon, nas edições de 14 e 21.10.2016, p. 04. Na transcrição, foram feitas pequenas retificações e adaptações de ajustamento. 

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