Carta Aberta às Mães Rondonenses - Textos da escritora Glória Kirinus

Pioneiros 28 de Setembro de 2022

São textos compilados que foram publicados no extinto jornal rondonense "Rondon Hoje." O informativo circulou nos anos 1978 a 1979, de nº 01 a 93.

 


Escritora Gloria Kirinus

Escritora Gloria Kirinus


       1. Carta aberta às mães rondonenses

       A nossa primeira carta nós endereçamos àquelas que tiveram a felicidade de ser mãe pela primeira vez:

       Querida amiga!

       Recebi com muita alegria a notícia de seu feliz alumbramento. Vocês ganharam um lindo nenê, leva o nome do pai e será médico como o vovô, ainda que o vovô gostaria que o menino fosse militar como o titio. E assim a chegada desta nova critura desperta tantos nos pais como nos avós as mais grandes ilusões. Cada qual procura projetar nesta vida suas aspirações frustradas. O pai verá seu sobr nome, agora escuro e anônim , engrandecido e conhecido por muitas pessoas as quais ele dirá orgulhoso: "esta é meu filho". E talvez, querida amiga, você pense: "agora mudou minha vida e tenho alguém para quem me dedicar"... " nunca mais direi - não sei o que fazer". E assim o seu filho estará servindo apenas para preencher o vazio que havia em sua vida. E desta maneira vamos colocando as nossas ambições como pedras de tropeços no caminho desta nova vida que se inicia.

       Aliás, é comum no nosso meio capitalista, o costume de tirar o máximo proveito quanto a bens materiais. E inconscientemente fazemos o mesmo com os nossos filhos. Queremos tirar o "máximo rendimento", esperando que eles venham completar nossa felicidade. Esquecemos, no entanto, que cada nova vida traz suas próprias aspirações e pensamentos. Bem diz Gibran Khalil Gibran em seu livro "O Profeta":

       Vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.

       Vem através de vós, mas não de vós. Emboram vivam convosco, não vos pertencem. 

       Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, porque eles tem seus próprios pensamentos.

       Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas, pois suas almas moram na mansão do amanhã, e que vos não podeis visitar nem mesmo em sonho.

       Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não poderei fazê-los como vós; porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

       Vos sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.

       O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda sua força para que suas flechas se projetem, rápida e para longe.

       Que vosso encurvamento nas mãos do arqueiro seja vossa alegria: pois assim como ele ama a flecha que voa, também ama o arco que permanece estável".

       A primeira impressão que fica ao lermos este poema, é que o autor quer negar um direito fundamental a toda mãe. O direito de considerar seu aquilo que gerou e que lhe custou o sacrifício. Mas se tomarmos distância do sentimento de posse que nos domina, e raciocinarmos com o autor, então descobrimos que ele advoga o direito da vida em sí mesma. Qual seja o direito de viver e liberdade.

       Tomemos o poema como uma advertência do perigo que existe em nós mães de queer moldar e pré-fixar caminhos a um vida que por razão própria deve estar livre para desenvolver suas potencialidades. Pois não há vocação mais bela do que uma vida em liberdade. 

      É isto o que desejamos a seu filho, Gloria Kirinus¹ (Rondon Hoje. Marechal Cândido Rondon: Editora Independente Ltda., Ano 1, nº 9, ed. 28.09 a 05.10.1977, p. 3).

 

      2. Carta aberta ...

       Querida amiga. 

        Vejo você olhar o porvenir com preocupação, és mãe, e pensa na grande tarefa que tem pela frente, a educação de seu filho e você pergunta: quando deve começar a educação da criança? A partir dos sete anos, a idade com que acreditamos ser o começo do raciocínio? A partir do primeiro aninho ou do momento em que escolheu o companheiro de sua vida, no mento que decidiu casar e fazer do seu cônjuge o pai de seus filhos. Pois, sempre de novo se constata o fato que de casamentos precipitados nascem lares mal constituídos, e em lares onde o fundamento báscio não é amor conjugal, carecem da condição essencial para uma boa educação dos filhos. Sabemos que o meio ambiente exerce uma papel primordial na formação do caráter e da personalidade humana. O primeiro meio ambiente da vida humana é o útero materno do qual o lar, a família é sua extensão natural. Um lar conturbado por desavenças só poderá gerar filhos conturbados desde sua formação psico-neurótica.

       Sejam estas palavras as mais oportunas para as futuras mães e principalmente às jovens ou adolescentes que se precipitam ao casamento como se esse fosse o moitvo principal de sua existência, vendo apenas no seu companheiro a pessoa que lhe dará o título de senhora e um novo sobrenome, obedecendo algumas vezes os motivos de ordem material ou inferior; o medo de ficar para "titia", fuga do lar paterno ou simplesmente porque as amigas estão casando e é hora da gente também casar. Deixando de lado o instinto do amor o mais forte e o mais seguro que redundará numa harmonia física e espiritual, o qual já é uma base sólida para manter um clima favorável ao desenvolvimento emocional da criança. Não podemos esperar que nossos filhos sejam contemplados com uma educação sadia. 

       Já diziam os velhos filósfos tomistas: "Nada existe no intelecto que antes não passe pelo sentimento". Da verdadde sintetizada nessas palavras, podemos concluir que o fundamental para tudo que aprendemos dever ser sentido. Também o amor como sentimento deve ser aprendido na vida conjugal. Muitas vezes com o casamento das as "garantias" asseguradas pela legislação civil, substitue o esforço da conquista mútua provocada pelo amor pré-nupcial. E com isso perde-se o fundamento da vida conjugal — o amor que vai sendo substituído pela rotina da contiguidade.

       Cara amiga, se você percebe que é isso que está acontecendo em sua vida conjugal, este é o momento para uma parada na rotina, e para avaliar a sua vida conjugal e assim procurar o restabelecimento dos laços do amor que vos uniu. Pois é disso que depende a educação de seu filho: um lar que como meio ambiente ofereça condição básica para um crescimento natural e equilibrado dos que são seu melhor fruto — o seu filho (Rondon Hoje. Marechal Cândido Rondon: Editora Independente Ltda.,  Ano 1, nº 11, ed. 05 a 12.10.1977, p. 3).
 


3. Carta Aberta às Mães Rondonenses

      Além de todos os problemas já vistos que giram em torno da gestão uma nova preocupação se aproxima. Acontece que a vida humana é tão complexa envolve tantos cuidados que se torna impossível prever o seu desenvolvimento futuro, pois o ser humano não nasce programado, nasce com sistema hereditário aberto às influências do meio com o qual estabelece contato e vai perfazendo seu programa de vida, é por isso que devemos nos preocupar em providenciar um meio saudável ao desenvolvimento da criança, pois agora nosso filho sai do útero para ingressar no útero familiar onde haverá de receber as primeiras impressões do mundo que vive e que ele marcará a sua personalidade e caráter.

       Sem dar-mos conta criamos imagens e tabus que contribuem para a formação negativa da pessoa. Muitas vezes, por exemplo, cercamos a criança como uma excessiva proteção e no afã de deter ela diante da chalera de água quente, de uma tomada, do ventilador etc., em nosso contato diário como que ela predomina a terminologia proibitiva e negativa.

       Por outro lado para impor-lhe obediência a está nossa proibição criamos a consciência do medo invocando para tal a imagem do diabo, do bicho, do homem negro, desenvolvendo assim o racismo em nossas crianças. Também Deus é usado para ameaçar a criança quando mencionamos a conhecida frase "castigo de Deus". Esta frase nos acompanha ao longo de nossa vida adulta manifestando-se naquele fatalismo e complexo de culpa que muitas vezes sentimos quando dizemos "Estou pagando meus pecados" ou "que pecado cometi para sofrer tanto". Quantas vezes dizemos para as nossas crianças depois de uma queda, "é castigo de Deus por não obedecer" aparecendo assim a imagem de Deus vingança que castiga a mínima falta e recompensa os atos bons, lembrando-nos a lei do Talião "olho no olho; dente por dente". Afastamos assim o Deus misericordioso que é perdão e é amor para substituí-lo pelo Deus vingativo e severo.   

       Sem dar-mos conta encontramos uma boa maneira de fazê-la obedecer mas ao mesmo tempo estamos preparando uma pessoa supersticiosa que se deixa dominar pelo medo e pela intuição incapacitada para enfrentar o mundo coma razão e a inteligência.

       Seria muito mais aconselhável que perdêssmos um pouco mais tempo para fazerr a criança entender o porque de nossa proibição a certas atitudes fazendo-a obedecer pela razão e o entendimento do que mantê-la na ignorância da superstição e sob a pressão do medo e do terror. Nos subestimamos a capacidade de compreensão das crianças. Elas já percebem e tentam compreender muito mais do que imaginamos. Aliás uma criança é uma vida aberta, como dizíamos no início, que procura captar e entender tudo que a cerca. Nós não temos o direito de dar para ela a negação da vida mas lhe devemos a afirmação da vida.

       Pensemos uma vez sobre isto: Quando lhe disseram não na vida, tudo deves dizer sim, pois tu não és o problema mas a solução. Gloria Kirinus (Rondon Hoje. Marechal Cândido Rondon: Editora Idependente Ltda.,  Ano 1, Nº 13, ed. 19 a 26.10.1977, p. 8). 
 


4. Carta Aberta às Mães Rondonenses

        Você me conta que ao elogiar a beleza de uma linda menina, a mãe respondeu que é guri. Mas como guri? Se está vestido de menina, penteado de menina e até com as unhas pintadas...? Eu esperei tanto uma menina ... e veio um grui.

        Estas situações correm mais seguido do que pensamos. E sem dúvida é uma monstruosidade, o que fazemos com uma criança, às vezes, ingenuamente sem medir consequências futuras. Se a criança e seu sexo. Desde o terceiro mês de vida intrauterina o feto define-se sexualmente, e não é justo que depois nós violemos sua natureza, enfeitando o guri como menina ou criando um tipo rude e com característica de piá em nossa menina. Isso não quer dizer que tenho uma menina muito feminina "suas ideias sejam mais curtas", pois inteligência e mulher também são perfeitamente compatíveis.

        Como já me referi em carta anterior, temos a mania de predeterminar o futuro de nossos filhos fazendo deles meros objetos dos quais nos apossamos. Creio, no entanto, que não existe desrespeito maior aos filhos e a vida quando agimos, seja consciente ou inconscientemente, e pretendemos mudar o comportamento sexual do nosso filho. Pois acostumar um garoto com a ideia de que pertencem a outro sexo é predispô-lo a uma série de distúrbios psíquicos ou seja, pessoas descontentes com seu sexo ou sexualmente indefinidos. Sabe-se que a grande maioria dos casos de homossexualismo e lesbianismo tem suas raízes na educação recebida na família desde a idade mais tenra.

        Muitas e muitas vezes, comportamento dos adultos em seu relacionamento com crianças, e principalmente de nós mães que mantemos contato permanente com elas, é de franca agressão ao sexo dos mesmos. Nós partimos para esta análise de uma atitude mais grave, o de vestir um menino de menina, mas personalidade de nossos filhos.

        Para tranquilizar as mães cujo marido quer ter uma menina ou guri, e só nascem de um mesmo sexo, e que por isso tem consciência de culpa, tenho a dizer-lhes que a criança não é culpada de nascer homem ou mulher, e nem tem influências para determinar, desde a concepção, o sexo concebido. Que determina isso é o pai, não quero dizer que ele seja o culpado, mas é no líquido seminal paterno, onde se encontram os espermatozóides com caracteres genéticos femininos e outros masculinos, e é na disputa entre esses que se decidirá quem fecundará o óvulo, se é um espermatozóide masculino ou feminino. Então podemos concluir que é dos espermatozóides paternos que depende o sexo do filho.

       Cara amiga, muito ainda se poderia dizer a respeito do nosso papel na educação sexual, pois é ali onde mais falhamos seja por omissão ou por intromissão inadequada. E infelizmente é o por nosso medo, preconceito e fuga ao dever de educar que encontramos em nosso meio tantas distorções e deformações sexuais.

       Voltaremos ao tema em outra oportunidade. Atér breve! Mãe Gloria (Rondon Hoje. Marechal Cândido Rondon: Editora Independente Ltda.,  Ano 1, nº 14, ed. 26.10 a 09.11.1977, p. 5).


5. Carta aberta às mães

       Querida amiga!

       Na última carta lhes escrevi sobre certas atitudes que comprometem a educação de nossos filhos.  Examinávamos o caso do vestuário em que algumas mães costumam vestir o seu filho com vesttimentos femininos em fraco desrespeito ao sexo a que pertencem. Com estas condutas existem uma afinidade de pequenos gestos ou expressões que marcam profundamente o comportamento sexual de nossos filhos.

       Existem, por exemplo, atitudes menos menos agressivas, mas igualmente perigosas, como é caso da frase seguidamente repetida diante dos nossos filhos homens: "homem não chora". A nossa intenção é consolá-los ou reprimir o choro provocado por uma queda, ou por algo que provocou a emocionalidade do filho. Sempre há uma razão para o choro que é o primeiro esquema de defesa que ele aprende desde o nascimento. 

       "Homem não Chora", parece um expressão insignificante, que ao lado de tantas outras, traduzem em linguagem simples. todo um universo de preconceitos como que pulverizamos a mentalidade de nossos filhos. Pensemos um pouco, como receberia um grurizinho esta frase? Em primeiro lugar, não tendo outra forma de desabafar ou manifestar sua dor, sua frustração, etc., senão através do choro, agora reprimido, é capaz de provocar nele uma revolta bem maior e mais nefasta do que um simples choro. Em segundo lugar, estamos mentindo, pois ele mesmo descobrirá, cedo ou tarde, de que homem também chora, e é claro que o choro não diminui e nem aumenta a masculinidade.O choro é meramente uma questão de emocionalidade. 

       Sempre que um ser humano seja homem ou mulher se encontra diante de uma nova situação para a qual não tem mencanismo de defesa ou não conhece uma saída possível ele se emociona. Portanto, é o grau de emocionalidade que vai determinar a quantidade de lágrimas derramadas não é o sexo que determina o choro.

       Em fim, gestos e frases dessa natureza, criam em nossos filhos sérios conflitos e colocam em dúvida sua verdadeira identidade sexual. Associando choro com feminilidade faz com que nossos filhos se sintam diminuídos em sua sexualidade masculina, isto repercute mais prejudicialmente nos adolescentes que estão na fase de auto-afirmação de sua personalidade onde o sexo desempenha um papel fundamental. É fácil compreende  que diante do preconceito que lhes nega a vida emocional,a sua defesa e auto-afirmação se faz pela sublimação. Na tentativa de auto-afirmação como homem que não chora, nasce a dureza de caráter de um machão. A deformação da pessoa humana na figura de um "machão" esconde atrás de suas atitudes rústicas de brutalidade e violência todos os seus complexos e fraquezas humanas oriundas por uma educução repressiva. Não me proponho a ousadia de afirmar que a frase e o gesto acima vistos sejam única causa do machismo em nossa sociedade, mas quis apenas mostrar o outro lado dos exageros cometidos contra a sexualidade de nosso filho. Portando não podemos querer mudar o sexo de nossos filhos induzindo comportmento contrário, nem reforçar o sexo com nosso preconceitos a respeito da masculinidades. A vida de nossos filhos tem seus proprios caminhos de manifestar o seu sexo, eles necessitam tão somente do nosso amor e respeito em sua vida. GLORIA KIRINUS (Rondon Hoje. Marechal Cândido Rondon: Editora Independente Ltda., Ano 1, nº 17, ed. 17.11 a 23.1977, p. 5).

 

* Como o periódico que vinha publicando os artigos de Glória Kirinu, era ligado ao grupo político do então deputado estadual Werner Wanderer, opositor ao pastor Gernote Gilberto Kirinus, a articulista, esposa do religioso, foi boicotada em dar continuidade aos seus escritos para serem publicados no semanário  (nota do pesquisador). 

 

       Homenagem especial às mães solteiras

       Na edição anterior deste jornal lemos o depoimento anônimo sobre um abôrto, mas existe também em oposição a esta atitude desesperada de submeter-se a um abôrto, outra atitude mais nobre, mais digna, que é a de assumir a maternidade, correndo risco de ser chamada mãe solteira.

       Sempre senti especial admiração por estas môças que assumem com coragem e responsabilidade sua maternidade embora sendo solteira. Elas também merecem a nossa homenagem neste dia. Esta situação de mãe não é tão cômoda como a nossa, pois em muitos casos enfrentam enormes dificuldades, pressões, mêdo, ficam expostas a serem desrespeitadas pelos que, em atitude rudimentar e aninalesca, pensam se aproveitar da situação delas. Mesmo assim elas insistem na opção pela dignidade maternal. É inacreditável que uma sociedade civilizada possa, em absurda contradição, condenar a mãe solteira e ao mesmo tempo o abôrto. Uma sociedade em que a mãe solteira, a nível profissional, é condenada ao desemprêgo, ao desprêzo, não se poder dar ao luxo de condenar o abôrto. 

       A progenitorra do abôrto é a mentalidade social, montada em pré-conceitos e tabus contras as mães solteiras. Mais absurda ainda é a sociedade que condena, arbitrariamente, a mãe solteira fazendo com que a vítima de boa fé se transforme em réu, réu que não está sendo acusado por matar, mas pelo contrário, por ter sustentado e gerado uma vida. Caso matasse, optando pelo abôrto, encontraria maior chance de defesa por parte dos que se acovardam em assumir a responsabilidade diante de uma nova vida. Encontraria apoio naqueles cujo "status social" não lhes permite a virtude da coragem, mas os condena a miséria interior da covardia. Embora o abôrto lhe salve as aparências mas o interior se corroa na miséria infalível. Por isto sempre haverá mais virtude nos que assumem a vida do que naqueles que se ocultam na sombra da morte. 

       A mãe solteira também está de parabéns. Nos parabenizamos com ela pela nobreza de sua atitude, a de ser mãe. Muito mais do que mãe ela é mãe e "pai" ao mesmo tempo, já que o pai se apagou na covardia de seu impulso. A mãe solteira expõe a luz do dia o falso brio da virilidade transformado na deplorável atitude de fuga do "pai solteiro".

       Talvez seja este um motivo pelo qual ele se torna incômoda para muitos que procuram ignorá-la, desprezá-la quando não condená-la. Contudo achamos também que ela merece uma homenagem.

       Considere-se ainda que a mãe solteira necessita de muito mais fôrça para vencer a gestação dado a preocupação coma insegurança econômica e falta de apoio social, familiar, moral etc. São poucas as que conseguem corajosamente reunir forças para vencer estas barreiras. E tudo isto elas precisam enfrentar sozinhas... enquanto a conversa das comadres "igrejeiras" se delitam  com especulações de quem é o pai, ... e o "pai" toma distância para não ser descoberto em sua flagrante irresponsabilidade... ela enfrenta na solidão a luta por uma vida a caminho. Então ela merece ou não a nossa homenahem, consideração e aprêço?

       "Moça, ninguém a condenou... eu também não te condeno... vai e não peques mais" - são as palavras do nosso Mestre. Sou leiga em assuntos bíblicos mas quero crer que Cristo, inspirado no amor e na sabedoria do perdão, viu na sociedade que circunstância o pecado. O ser humano é um ser situado dentro de uma conjuntura social que lhe abre caminhos como lhe limita as opções de vida. Não se pode condenar o indivíduo sem levar em conta o contexto social em que se praticou o erro. Em muitos casos é a própria sociedade que cria os agentes do mal e aponta as vítimas. No caso da mãe solteira a imaturidade de nossa sociedade cria constrangimentos, limitações e impraticabilidade da doutrina Cristã de amor e perdão. Enquanto persistimos em nossa sociedade nos pré-conceitos, tabus de ordem sexual, num falso pudor diante da evolução natural da vida humana, na dupla moral predispostas contra o sexo feminino (virgindade, mãe solteira, honestidade) e compacente ao sexo masculino (machismo, irresponsabilidade paterna, traição), não poderá brotar o o amor - perdão, reconhecimento e novas chances de vida. Não haverá lugar para os que querem recomeçar. Não haverá compreensão pra os que buscam cultivar virtudes apesar de carregar consigo títulos impostos como "mulher da vida, mãe solteira", et.

       Continuaremos na hipocrisia dos moralistas "justiceiros", continuaremos adotando meias soluções como: divórcio, liberação do abôrto, incentivo a criação de "motéis" nem sempre no bom sentido da palavra, "casas de tolerância" para onde pretendem enviar os que não se enquadram na moral oficial e nos deslizes morais dos "males necessários". Nós participamos na construção da sociedade em que vivemos. Ela será absurda, contraditória, rígida, implacável e severá, rudimentar e primtiva como os que a compõem e nela vivem. Mas ela poderá ser coerente, livre, compreensiva e voltada a vida se realmente estivermos maduros para revisar nossas crenças mais enraizadas e resolvemos incluir a todos sem os prejuízos e preconceitos anteriormente vistos.

       A ti mãe solteira nossa homenagem ao lado de todas as mães que souberam dar de si para que a vida se imponha cada vez mais e se firme em nossa sociedade com dignidade e nobreza (Rondon Hoje. Marechal Cândido Rondon: Ano 1, nº 38, ed. 13 a 20 de maio de 1978, p.7).


O texto acima não se inclui na série de artigos "Carta Aberta as Mães Rondonenses" 

 

 

        

       

      


 

 

 

       

       

 

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