O primeiro jardim de infância

Pioneiros 24 de Julho de 2015

A edição do jornal o Presente, de 24 de julho de 2015, ofereceu ao leitor vários recortes jornalísticos contando elementos da história de Marechal Cândido Rondon. O título "O primeiro jardim de infância" foi um deles. A sua relevância  se traduz na experiência pioneira de estabelecer um jardim de infância num núcleo urbano principiante, onde as facilidades se resumiam no apoio da comunidade  e na criatividade da professora. 

 


Primeira professora do jardim de infância da vila General Rondon, Elinore com seus alunos, em 1953.

Primeira professora do jardim de infância da vila General Rondon, Elinore com seus alunos, em 1953.

Professora Elinore em vista ao Colégio Evangélico Martin Luther.

Professora Elinore em vista ao Colégio Evangélico Martin Luther.


O PRIMEIRO JARDIM DE INFÂNCIA

 

Marechal Rondon ainda era a vila General Rondon, distrito de Toledo, quando foi criado um jardim de infância para abrigar as crianças dos pioneiros. A primeira professora foi Elinore Guthoff Zeni. Ela fala dos desafios e das dificuldades da época: "tudo foi superado e valeu a pena", diz.

 

Pelos idos de 1950, o Oeste do Paraná era o ponto de chegada de dezenas de colonos, que vinham, em grande maioria, dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Pela Colonizadora Maripá, eram encaminhados à vila General Rondon, então distrito de Toledo, sendo boa parte dessa gente de origem alemã e pertencente à Igreja Evangélica ou Luterana. 

Os anos foram passando e cada vez mais moradores se somando. Embora a vila ainda fosse pequena, os pioneiros enxergaram a necessidade de criar um local para abrigar os seus filhos. 

Em 1953, a partir de uma iniciativa da diretoria do grupo de mulheres da Igreja Evangélica, foi criado o primeiro jardim de infância em General Rondon. Quem teve papel determinante neste processo foi então a presidente da Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (OASE), Hedwig Guthoff (em memória), que tinha influência com Willy Barth, um dos diretores da Colonizadora Maripá. 

Essa história, que merece ser contada, tem comom protagonista Elinore Guthoff Zeni, filha de Hedwig e Bertholdo Guthoff. Ela foi a primeira professora do jardim de infância, que deu origem ao internato até se transformar no Colégio Evangélico Martin Luther.  A simpática senhora, hoje aos 80 anos, lembra que a sua mãe dizia ser preciso fazer algo para que os filhos dos moradores tivessem boa educação e permanecessem ocupados enquanto seus pais trabalhavam.

"Minha mãe falou para eu assumir o jardim de infância e, mesmo não estando preparada, aceitei, porque era para ajudar. Eu não recebia ordenado na época e as famílias ajudavam a manter algumas atividades, pois, eram bem de vida. Havia comerciantes, donos de posto, eletrecista, fotógrafo, pessoas com profissão", conta Nore. 

Ela diz que sua família veio de Santa Catarina e tinha sociedade no Hospital Filadélfia. A família Seyboth era dona do prédio e atuava na medicina, enquanto os pais de Nore eram donos das mobílias dos quartos e responsáveis pela cozinha do hospital. Na época, a jovem professora trabalhava de manhã e à noite na cozinha do hospital e cuidando dos pacientes, e à tarde lecionava e cuidava das crianças da vila. 

SIMPLICIDADE

Nore comenta que o jardim de infância recebia cerca de 30 crianças e não havia distinção de religião, pois era pouca gente naquele tempo. Além disso, o primeiro local usado como sede do jardim foi a casa do pioneiro Oscar Schneider (em memória), até ser transferido a um barracão com a igrejinha do lado. "Era tudo muito simples. A mesa era rústica, dessas de churrasco, com bancos comuns. As crianças gostavam muito de ir ao jardim. Além de contar histórias, nós fazíamos brincadeiras, como esconde-esconde, toda, ovo-choco, atividades manuais, cantos, teatro e orações", cita. 

Segundo ela, havia um palco onde aconteciam as apresentações natalinas. "O professor Osvino Weirich (em memória) sempre me ajudava a criar a programação de Natal e Páscoa". Nós fazíamos apresentações bonitas e todo mundo colaborava. Foi um tempo muito bom e as coisas marcantes vieram da vivência com os alunos e com o professor Osvino", comenta. 

Como era hábito na época, alunos de mais idade estavam em meio as crianças de colo. No jardim de infância, recorda a professora Nore, havia aluninhos de dois anos até sete anos ou mais. "Era multisseriado. A gente ia a pé com eles no colo para o jardim", lembra. 

SUPERAÇÃO

A distância era um das dificuldades da época, pois Nore caminhava bastante até chegar ao jardim de infância, muitas vezes acompanhada pelos seus alunos, enfrentando calor, frio, sol, chuva, poeira e barro. "Tudo valeu a pena. Essa foi uma época muito boa de minha vida. Eu gostava muito de trabalhar com as crianças e todas as dificuldades que exitiam foram superadas", destaca. 

Nore trabalhou no jardim durante quatro anos, de 1953 a 1957. "Não foi um período longo, porém, foi uma fase muito boa, que me deixa agradecida. Um ano depois de não lecionar mais no jardim eu me casei, em 1958. Na cerimônia de casamento um aluninho de dois anos me esperava com um buquê e três moças fizeram uma homenagem. Depois eu e meu marido Rui Zeni abrimos restaurante em Toledo. Hoje em dia são as minhas filhas que trabalham como professoras", comenta. 

A partir do casamento de Nore e Rui nasceram as filhas Karin Elizabete, Marylis Cristina e Rosmari Margareth. Mas dona Nore não abandonou a vocação por completo, pois ainda hoje cria histórias e as conta aos seus netos, embora eles sejam grandes. "Continuei com o jardim de infância em casa, fazendo brincadeiras com minhas filhas e netos, contando histórias", brinca. 

HOMENAGEM

No ano passado, a primeira professora do jardim de infância foi homenageada pela direção e coordenação do Colégio Evangélico Martin Luther durante culto na igreja. "Foi um dia que me deixou muito feliz. me senti muito honrada e achava que nem merecia tudo isso. Foi muito bonito ver as crianças cantando, os pastores, a diretoria e professores prestando homenagens. A cerimônia foi marcante, pois reencontreu vários alunos. É uma pena que alguns já faleceram", pontua.

A convite da reportagem de O Presente, dona Nore se deslocou de Toledo a Marechal Cândido Rondon para conceder a entrevista e visitar as atuais instalações do Colégio Martin Luther. Surpresa com tudo o que viu, ela disse que não pensava que o pequeno jardim de infância dos idos anos 50 pudesse no futuro ser transformado em uma grande escola. "Considero tudo importante e consequência de um trabalho. O povo rondonense sempre batalhou muito para crescer e eu fico feliz em ver toda essa prosperidade. Se fosse para ajudar, faria tudo de novo. Só posso elogiar aqueles que vieram depois de mim e fizeram as coisas acontecer. Fico pensando em uma sementinha tão pequena que cresceu e ficou tão grande", finaliza. 

 

 

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