Hilda Eckstein - 2ª mulher a residir em Quatro Pontes

08 de Agosto de 2018

O depoimento da pioneira traduz, de modo geral, o cotidiano pioneiro de centenas e centenas de famílias que migraram do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, principalmente, para o projeto de colonização da Maripá. É o retrato de tempos de carestia e difíceis.

Ouça a entrevista

A pioneira Hilda (nascida Mittelstadt) Eckstein chegou de mudança em Quatro Pontes, sozinha, em agosto de 1951, procedente de Toledo. O transporte foi feito com um caminhão da colonizadora Maripá, com saída de Toledo via São Cristóvão e Margarida (ambas localidades agora no município de Marechal Cândido Rondon), KM10 (no atual município de Pato Bragado), Iguiporã e Curvado (os dois núcelos agora no município de Marechal Rondon), vila General Rondon (na época, e agora a cidade de Marechal Cândido Rondon) e finalmente Quatro Pontes.

Ela foi a segunda mulher a residir em Quatro Pontes dentro do projeto de colonização da Maripá. A primeira foi a esposa do pioneiro Seno José Lang, Ottilia Schmitz¹.

¹ (Faleceu em 03 de setembro de 1953. Foi a primeira pessoa sepultada na área do cemitério local recém definido (DEITOS, Nilceu Jacob. Paróquia Nossa Senhora da Glória – Meio Século de História. Toledo: Gráfica Tuicial e Editora, 2005, p. 23, grifo nosso).

O esposo da pioneira², Lauro Eckstein³, chegou semanas antes a Quatro Pontes como funcionário da Maripá, para trabalhar na filial do Empório Toledo⁵, recém-instalada na localidade (era filial 2; a filial 1 era em General Rondon). O empório atendeu inicialmente o grupo de agrimensores que fazia a medição das colônias, segundo o testemunho da pioneira.
 

² É natural de Não-Me-Toque, agora município, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 14 de novembro de 1928, filha do casal Rosalina (nascida Wargen) e Adolfo Mittelstadt. Casou-se em 1º de maio de 1950 com Lauro Eckstein, nascido em 05 de maio de 1929, filho do casal Amália (nascida Beres) e João Eckstein.

³ A família Eckstein, pais e filhos³˙¹, tinha se mudado para Toledo em 1950, onde chegou com a mudança em 10 de agosto de 1950, procedente de Não-Me-Toque, onde iniciaram a viagem cinco dias antes.

 ³˙¹  Todos solteiros – único casado, o filho Lauro, que acompanhou os pais na mudança do Rio Grande do Sul, junto com a esposa Hilda.

 São filhos do casal Amália e João Eckstein, que casaram no Oeste do Paraná: Lindolfo casou-se com Mercedes Monbach; Alice com Valmor Rockembach, Luiz com Alice Schneider (pais do engenheiro-civil rondonense Elói Eckstein) e Luceno (solteiro).

Todos os filhos fixaram residência na região, menos Lindolfo, que optou por morar em Santo Cristo (RS).

⁵ A Maripá instalou uma rede de filiais com unidades nos diversos núcleos urbanos que implantou em seu projeto de colonização para atender a demanda de mantimentos e ferramentas dos novos moradores.

 

A pioneira Hilda Eckstein nos recebeu para o começo da entrevista numa tarde de 2018, em sua residência na cidade de Quatro Pontes, onde mora em companhia da filha caçula Adelaide.

Muito tranquila, serena, afável, bem-humorada sentada em sua poltrona, segundo a filha é a sua rotina quando está em casa, sempre na companhia inseparável do rádio sintonizado na Rádio Tropical FM local. Apesar de alguns lapsos de memória (o tempo fez suas marcas), a pioneira – com uma forte dose de satisfação e orgulho, fala das reminiscências do pioneirismo e as experiências vividas ao longo de sua vida e de sua comunidade. Cautelosa, logo chama atenção que de muitos fatos pode não se recordar certo na hora, mas que responderia caso lembrasse como foi o fato. Por isso, a entrevista foi complementada ao longo de 2018 e no começo de 2019. O áudio anexado à entrevista foi editado.

 

Memória Rondonense – A senhora Hilda, quando chegou com a mudança em Quatro Pontes, foi morar onde?

Hilda Eckstein: No barracão do Empório Toledo onde meu marido Lauro tinha arrumado um espaço para a gente se acomodar.

Memória Rondonense: Como era a construção desse barracão?

Hilda Eckstein – Era bem antiga, porque era bem preta, tudo já. Parecia muito velho⁶.

(⁶ Tratava-se do barracão construído pelo obrageiro Julio Tomás Allica, junto ao Arroio Quatro Pontes, como local de pouso de peões e tropas que faziam o transporte de erva-mate da região de Campo Mourão até o “Puerto Artaza”, no atual distrito rondonense de Porto Mendes, local hoje submerso pelas águas do reservatório da Itaipu Binacional. A construção deve ter ocorrido na segunda década de 1900.

Logo depois que a colonizadora construiu um novo barracão onde está agora a cidade de Quatro Pontes, a antiga construção foi demolida.

A obrage de Allica junto às barrancas do Rio Paraná foi um portentoso empreendimento de exploração de erva-mate derrocado pela Coluna Prestes (ver mais, clique aqui) quando de sua passagem pelo local em 1925).

 

Memória Rondonense – Como foi a questão de alimentação na época, de onde vinham os mantimentos para atender os primeiros moradores de Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Veio tudo da matriz do Empório, de Toledo.

Memória Rondonense – Vinha feijão, vinha arroz...?

Hilda Eckstein – Tinha açúcar, tinha farinha, tinha de tudo.

Memória Rondonense – Tinha sal?

Hilda Eckstein – De agulha até roupa para costurar. Tudo tinha.

Memória Rondonense – A mandioca para cozinhar vinha de onde?

Hilda Eckstein – O Seno Lang⁷ sempre foi buscar em Dez de Maio (distrito de Toledo, grifo nosso).

⁷ Ver mais, clique aqui.

 

Memória Rondonense -  O Seno Lang o primeiro morador de Quatro Pontes, pegava de um pioneiro em Dez de Maio. E a carne vinha de onde?

Hilda Eckstein – Às vezes, quando em Porto Britânia matavam um boi lá, às vezes, veio uns quilos de carne. Se não, sempre tinha charque, assim, uma coisa sempre tinha. E também alguma carne de caça.

Memória Rondonense – Onde os primeiros moradores de Quatro Pontes iam buscar água para beber?

Hilda Eckstein – Os primeiros que estavam acampados na vila pegavam água no Rio Quatro Pontes.

Memória Rondonense – Quando a senhora chegou aqui onde pegava água?

Hilda Eckstein – Nós tinha lá embaixo um pocinho...

Memória Rondonense – Junto ao antigo empório?

Hilda Eckstein – É. O empório estava lá pra baixo pra lá do Rio Quatro Pontes e quando fizeram poço ali na vila,  daí nós viemos pra cima morar (é a atual localização da cidade de Quatro Pontes, grifo nosso)... e daí todo mundo pegou água ali em casa.

Memória Rondonense – O seu poço servia água para todos os moradores de Quatro Pontes no começo?

Hilda Eckstein - Primeiro morador até que... Porque eles fizeram dois poços ainda, onde tem ali pra baixo o Faustão (é um restaurante na cidade, grifo nosso)... Os dois poços desmoronaram. Estava um com 19 metros e o outro parece com 17, e os poceiros não entraram mais.

Memória Rondonense – Desmoronaram os poços e o pessoal se obrigou, novamente, a buscar água no seu poço?

Hilda Eckstein – Sim!

Memória Rondonense – Onde se lavava a roupa antigamente, os primeiros moradores?

Hilda Eckstein – Todo mundo lavava enchendo um tanque com água que tirava do poço ou descia até o Rio Quatro Pontes. A Maripá distribuiu tanques de madeira para os primeiros moradores.

Memória Rondonense – O pessoal descia da vila até o Arroio Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – É, sempre iam lá para lavar roupa. Todo mundo era família pequena.  Quem não ia até o rio tirava água do poço para lavar, limpar, cozinhar, para o hotel, para tudo. Eles tinham que pegar água do poço lá de casa.

Memória Rondonense -  Quanto à higiene, o banho. Como as pessoas tomam banho na época.

Hilda Eckstein – Ah! Na bacia. Tirava a água do poço.

Memória Rondonense -  E quando veio o chuveiro?

Hilda Eckstein – Eu não me recordo quando chegou. O Ricardo Feuerhammel⁸ tinha um chuveiro de puxar com a cordinha.

⁸ (Foi o proprietário do primeiro hotel de Quatro Pontes, grifo nosso).

 

Memória Rondonense – Enchia de água e depois puxava para descer a água?

Hilda Eckstein – Sim! Como eles não tinham água no hotel, eles tinham que pegar toda água pra casa e hotel lá em casa. Para melhor atender quando vinham os compradores de terras, a esposa do Ricardo Fuerhammel, a Elza, pediu para por o chuveiro no meu banheiro. Eu tinha casinha de banho, de tomar banho, tinha tudo. Daí ela colocou o chuveiro ali e todo mundo tomava banho ali do hotel. Todos! Até o padre Aloísio também veio da paróquia para tomar banho na minha casa, isso lembro.

Memória Rondonense – O padre Aloísio Baumeister foi o primeiro padre vigário da Paróquia Nossa Senhora da Glória, de Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Sim!

⁹ (A Paróquia Nossa Senhora da Glória, de Quatro Pontes, foi instalada em 09 de novembro de 1955, por decisão de D. Manoel Könner, bispo de Prelazia de Foz do Iguaçu, com sede naquele momento em Laranjeiras do Sul, com a nomeação do padre Aloísio Baumeister como primeiro pároco. O documento de Manoel Könner assenta o seguinte:

“Crio e estabeleço com esta a nova Paróquia de Quatro Pontes desmembrando-a da Paróquia de Toledo e abrangendo todas as capelas ao longo da linha Vila Nova até a divisa do município de Guaíra. Laranjeiras do Sul, 9-11-55. Dom Manuel Könner " (idem, p. 24), grifo nosso.

O primeiro presidente da nova comunidade católica foi o pioneiro José Ricardo Stenzel. “Era ele quem dirigia a reza do terço quando não era celebrada missa” (ibidem, p. 23).

 

Memória Rondonense – Toalhas de banho e de rosto se comprava prontas?

Hilda Eckstein – Não! Eram costuradas em casa com sacos de algodão usadas para açúcar.

Memória Rondonense – Tomava-se banho usando sabonete como hoje?

Hilda Eckstein – Não! Era com sabão feito em casa.

Memória Rondonense – Como era ser mãe naquela época em Quatro Pontes, naqueles tempos pioneiros?

Hilda Eckstein – Era difícil. Mas ... (engasgou a voz)

Memória Rondonense – Os partos eram tudo via parteira?

Hilda Eckstein – Tudo parteira. A primeira era... Meus dois primeiros nasceram com uma parteira de Novo Sarandi. Mas, a filha do casal Lucila e Alcido Ludwig, a Silvâni Irene⁶,  foi a primeira menina que nasceu em Quatro Pontes, o marido foi buscar uma parteira em Rondon, à pé.

⁶ (Casou-se em Quatro Pontes com Marino Sott, grifo nosso).

 

Memória Rondonense -  Ele foi buscar a pé e ela também veio a pé?

Hilda Eckstein – Ela veio. A Maripá tinha um tratorzinho lá e vieram com ele até Quatro Pontes. Mas, quando chegaram a criança já tinha nascido.

Memória Rondonense – Essa criança foi a primeira que nasceu aqui?

Hilda Eckstein – A primeira mulher que nasceu aqui.

Memória Rondonense – O seu primogênito não foi a primeira criança que nasceu em Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Não, não. Já teve outras. O meu filho Soni... O Egídio Lenz foi o primeiro dos rapazes. Ele nasceu em 24 de agosto de 1952 e o meu filho em 15 de setembro.

Memória Rondonense – Quem foi a primeira parteira que veio morar em Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Foi a Ilka Lamb, irmã do falecida vereador Werno Ivo Lamb. Ela veio solteira do Sul, contratada pela Maripá. Aqui em Quatro Pontes se casou com o pai do ex-prefeito Rudi Kuns.

Memória Rondonense – As roupas para as crianças que nasciam eram compradas prontas no Empório?

Hilda Eckstein – Naquele tempo não tinha roupas prontas. Ao menos eu não conheci. No Empório somente tinha tecido para costura.

Memória Rondonense – Na época eram costurados cueiros para as crianças nascidas?

Hilda Eckstein – Sim!

Memória Rondonense – Não tinha, como hoje, essa de comprar fraldas prontas?

Hilda Eckstein – Não! A gente nem conhecia. Tudo era feito de pano. Quando estavam sujas as fraldas a gente lavava tudo isso. Não tinha outro jeito. O ruim era quando chovia, não secavam no varal.

Memória Rondonense – Que remédios se usavam na época para tratar resfriados, gripes, tosses e dores de barriga?

Hilda Eckstein – Olha, para não ganhar resfriados e gripes, a cada dois meses a gente dava para as crianças gotas de bálsamo alemão¹ᴼ, que pingava numa colherzinha com açúcar. As dores de barriga eram tratadas com Olina, para abrir o apetite se usava o Bukru, para ficar mais forte se dava Sadol. Para tratar de feridas era usado pomada Springer e pó Asseptil.

¹° (Era o Bálsamo Alemão de Nohascheck, produzido pelo Laboratório Saúde, de Porto Alegre, grifo nosso).

O Empório vendia todos eles. Mas, para feridas, como cortes, o mais usado era banha fresca de porco.

Memória Rondonense – E a dor de ouvido?

Hilda Eckstein – Se socava manjerona num pano e pingava a seiva no ouvido.

Memória Rondonense – E o pão de cada dia. Pão de milho ou branco de pura farinha de trigo?

Hilda Eckstein – Só pão de milho, às vezes, um pouco de farinha de trigo misturada. Na maioria das famílias pioneiras era pão somente com farinha pura de milho. Pão branco de trigo somente no Natal e Páscoa.

Memória Rondonense – E cuca e bolachas?

Hilda Eckstein – Cuca e bolachas somente no Natal e Páscoa. Também se fazia cucas para o feriado de Pentecostes.

Memória Rondonense – Cuca, pão de trigo e bolachas como temos hoje todos os dias, não existia?

Hilda Eckstein – Nunca!

Memória Rondonense – E churrasco?

Hilda Eckstein – Somente em festa de igreja e casamentos.

Memória Rondonense – A comunidade católica de Quatro Pontes tem a Paróquia com o nome de Nossa Senhora da Glória¹¹. A senhora sabe por que foi escolhido este nome?

¹¹ “A construção da primeira igreja foi concluída em abril de 1953. Na festa de Pentecostes daquele ano a missa solene na nova Igreja foi celebrada pelo Padre João Werner. Vinte anos depois ele retornaria a Quatro Pontes como terceiro pároco da comunidade católica” (ibidem, p. 23, grifo nosso).

 

Hilda Eckstein – Quem deu o nome foi o meu esposo Lauro, porque de onde que ele veio era Nossa Senhora da Glória.

Memória Rondonense – Lá no Rio Grande do Sul?

Hilda Eckstein – Sim. Teve terço no domingo e depois uma reunião e o Lauro sugeriu o nome para a igreja de Nossa Senhora da Glória. Daí o velho Tonelli falou “se o nome vai ser este, então eu compro a imagem”. E assim ficou. Porque o Guilherme Tonelli era de Palmeira das Missões, de Rio Grande, era longe do lugar de onde viemos.

Memória Rondonense – E a paróquia dele lá em Palmeira era Nossa Senhora da Glória?

Hilda Eckstein – Sim!

Memória Rondonense – Hoje, essa imagem ainda está na matriz de Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Eu acho que eles mudaram um pouco de lugar. Eu soube que eles colocaram ela ao lado do confessionário. Agora faz anos que não vou mais na igreja, porque não enxergo mais nada. Por isso, não vou. (A filha Adelaide intervém e confirma que a imagem foi restaurada e permanece na igreja – grifo nosso).

Memória Rondonense – Senhora Hilda, recorda da primeira missa em Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – A primeira missa foi na minha casa. O gabinete da minha máquina de costura de pedal foi improvisado como primeiro confessionário. Ele foi posto no quarto próximo da cama. Terminada as confissões, também a mesa foi dobrada em cima da cama para ter espaço na sala para a missa porque o lugar era pequeno. Cadeiras não tinha. A mesinha pequena de minha cozinha, porque pia nem conhecia, foi posta num canto da sala e serviu de altar. Quando tinha terminado a missa, era tirada a toalha e daí servido o café para o padre.

Memória Rondonense – Quem rezou a primeira missa foi o padre Antonio Patuí?

Hilda Eckstein – Sim! Antonio Patuí. Ele rezou missas sete meses. A oitava missa que tinha era com outro padre de Toledo.

Memória Rondonense – Sete missas, então, ele rezou em Quatro Pontes, o padre Antonio Patuí?

Hilda Eckstein – Sete meses. Um missa por mês.

Memória Rondonense – O que tinha de diversão nos domingos?

Hilda Eckstein – Nada. Mais não tinha.

Memória Rondonense – Passeava-se nos vizinhos?

Hilda Eckstein – Sim!. Depois tinha futebol. Eu sei que o campo era onde hoje é a praça de Quatro Pontes. Lembro que num domingo de Páscoa, no primeiro domingo de Páscoa tinha um jogo de bola com o pessoal de Rondon, e virou só briga e mais briga. Tinha um cara de Rondon que fugiu e gritou que ia esperar depois do Rio Quatro Pontes.

Memória Rondonense – A senhora e seu esposo Lauro construíram a primeira cerâmica de Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Foi a primeira de Quatro Pontes.

Memória Rondonense – Quem eram os sócios da cerâmica?

Hilda Eckstein – Da cerâmica eram sócios nós e o Hugo Friedrich. O Hugo Haubert e o Cláudio Reckziegel, os dois eram solteiros, estes eram funcionários. O Friedrich deu meia colônia de terra e nós entramos com nosso dinheiro.

Memória Rondonense – A senhora e seu esposo Lauro e mais os filhos moravam na vila de Quatro Pontes. Quando abriram a cerâmica ficaram morando na vila ou foram morar na olaria?

Hilda Eckstein – Fomos morar lá na cerâmica?

Memória Rondonense – Ficaram quantos anos com a cerâmica?

Hilda Eckstein – Até 1990.

Memória Rondonense – Quando foram morar na cerâmica, quem foi residir na casa de vocês na vila?

Hilda Eckstein – As irmãs!

Memória Rondonense – As irmãs religiosas¹² que vieram para Quatro Pontes?

¹² Pertenciam à congregação das Missionárias Servas do Divino Espírito Santo e fundaram o extinto Colégio Sagrado Coração de Jesus (grifo nosso.

 

Hilda Eckstein – Sim! Enquanto estavam construindo o colégio e a casa delas, elas moraram na minha casa. Elas usavam até meu fogão e tudo, porque na cerâmica tinha fogão.

Memória Rondonense – Fazendo uma comparação entre aquela época com a de hoje, qual a diferença que a senhora vê nas pessoas?

Hilda Eckstein – Muita, muita. Porque naquele tempo tinha amor ao próximo e hoje não existe mais isso.

Memória Rondonense – É mesmo? Um ajudava ao outro?

Hilda Eckstein – Sim! Um ajudava ao outro.

Memória Rondonense – A senhora chegou a conhecer o Rubens Stresser, que foi o primeiro vereador de Quatro Pontes na Câmara de Toledo?

Hilda Eckstein – Sim! Muito. Ele sempre estava lá em casa, era como um filho. Ele vinha cada noite quando era solteiro.

Memória Rondonense – Qual era o trabalho dele na Maripá?

Hilda Eckstein – Ele cuidava do campo experimental.

Memória Rondonense – A Maripá tinha um campo experimental?

Hilda Eckstein – Sim! Onde hoje moram os Kappes.

Memória Rondonense – Qual foi a primeira pessoa que faleceu em Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Foi a senhora Ottilia Schmitz Lang, em 1953. Esposa do Seno José Lang.

Memória Rondonense – Parece que o senhor Seno telefonou de Vila Nova para a senhora avisando que estava vindo com o corpo da falecida esposa. A senhora se recorda disso?

Hilda Eckstein – Sim! Eu fui avisar a família. O Arno e a esposa Julita e o irmão do Lauro e esposa, que moravam na casa do Seno.

Memória Rondonense – Arno, irmão do Seno Lang?

Hilda Eckstein – Sim!

Memória Rondonense – Então, na época, tinha telefone?

Hilda Eckstein – Sim! Na matriz e nas filiais do Empório.

Memória Rondonense – Estes telefones pertenciam à Maripá?

Hilda Eckstein – Sim!

Memória Rondonense – Os moradores usavam, bastante esses telefones quando tinham que se comunicar?

Hilda Eckstein – Não! Somente quando era urgente. Para recados usavam os caminhoneiros que puxavam toras, madeira, quando acontecia alguma coisa.

Memória Rondonense – Os recados eram mandados pelos motoristas dos caminhões?

Hilda Eckstein – Sim!

Memória Rondonense – E, por aqui, passou muito caminhão com madeira?

Hilda Eckstein – Sim! Isso cada dia passavam.

Memória Rondonense – Quem foi a primeira costureira de Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Eu! Costurava de tudo, camisa, vestidos, saias, calças para homens e até bombachas.

Memória Rondonense – Vestidos de noivas também?

Hilda Eckstein – Não! Quem costurava era a Julita Lang, a segunda esposa do pioneiro Seno José Lang.

Memória Rondonense - A senhora se recorda de quem foi o primeiro casamento em Quatro Pontes?

Hilda Eckstein - Sim! Na verdade, foram dois casamentos no mesmo dia. Casaram Lucila Vogt e Irmundo Klein e Carlota Stenzel e Lauro Lang. Foi no dia de inaguração da primeira igreja da comunidade católica de Quatro Pontes. 

Memória Rondonense – A senhora recorda quem foram os primeiros professores em Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – A primeira professora foi a Leonilda Pappen, depois Henrique Brod, Imelda Schneider e Cáritas Grings¹³.

¹³ (Foi a primeira professora contratada pela Prefeitura Municipal de Toledo, grifo nosso)

Memória Rondonense – Quem foi dono da primeira casa de comércio em Quatro Pontes?

Hilda Eckstein – Foi o Jacó Voigt, pai do Léo Vogt e avô do Alcino Biesdorf, presidente da Cercar.

Memória Rondonense – Agradecemos a senhora Hilda Eckstein a gentileza da excelente entrevista.

 

 

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