Pioneira Liselotte Irmgard Diekmann von Borstel

21 de Dezembro de 2015

“Ainda enfeito o pinheirinho da minha casa com as bolas de Natal que vieram na mudança “...

A pioneira rondonense Liselotte Irmgard Diekmann von Borstel chegou com o esposo e filhos a então vila de General Rondon em 11 de junho de 1955.

Nasci em Piratuba, Santa Catarina, de religião Católica. Meu pai Geraldo Clemente Diekmann veio de Merzen, da região da Wesfália, Alemanha, para o Brasil em 1923, profissão marceneiro e pedreiro, faleceu com 68 anos de idade. Minha mãe Anna Rack veio em 1924 de Loiba, região Leste da Alemanha, próximo a Berlim, faleceu com 103 anos de idade. Os dois vieram da Alemanha para Estrela, RS, onde se conheceram, foram morar e casaram em Ipira, SC. Os meus pais foram homenageados pelo município de Ipira, o pai com o nome da Praça Principal e a mãe com o nome de uma Rua. Eu me casei com Ervino Roberto von Borstel com dezoito anos de idade, na Igreja Protestante Martin Luther em Piratuba, SC., tivemos cinco filhos. Meu marido faleceu com 47 anos de idade, aqui em Marechal Rondon no dia 02 de outubro de 1972”.

Conhecida como “Dona Lotty ou Lotchie”, a pioneira no alto de seus 87 anos, é  expressão surpreendente de uma pessoa realizada e de bem com a vida. Foi com muita simpatia que ela se dispôs a falar sobre mudança, pioneirismo, família, comemorações de Natal e Ano Novo.

1.  Em que data (dia, mês e ano) a família chegou a então Vila de General Rondon?

Viemos de mudança para Rondon em 11 de junho de 1955. Meu cunhado Edvino nos trouxe de Piratuba, éramos três famílias, a minha sogra Fridolina Schröeder von Borstel, com a filha mais nova Voni  recém-casada com Waldemar Schwingel, e a família de minha cunhada Selma e Hugo Freitag.     

2. Nome dos filhos que acompanharam os pais na mudança?

Emílio Geraldo (com seis anos de idade - falecido em 29/08/1992), Clarice Nadir (com 04 anos), Ani Cristina (com dois anos) e Miraci Margarida (com dois meses de  idade).

3. Algum filho ou filha nascida em Marechal Cândido Rondon?

Ilse Lorena, nascida em 22 de dezembro de 1957.

Todas as filhas estudaram e cursaram Universidade e Pós-Graduação, na área do magistério, em outras localidades. Miraci Margarida se formou em Matemática, Graduação e Pós-Graduação na UNIOESTE (Cascavel), Ilse Lorena em Educação Física na Graduação na UEM (Maringá) e Mestrado na UNICAMP, Clarice Nadir em Letras, graduação na PUC/Paraná (Curitiba), Mestrado em Letras na UFSC (Florianópolis), Doutorado em Linguística na UFRJ (Rio de Janeiro), Pós-Doutorado em Linguística Aplicada na UNICAMP (Campinas) e Ani Cristina cursou Graduação em Letras na UNB (Brasília) e Pós-Graduação na UNICAMP.

4. Qual foi a primeira atividade econômica da família em Marechal Rondon e posteriores?

No início trabalhamos aqui como agricultores, moramos em torno de três anos em uma chácara na Linha Guará.

 Em 1958, fomos morar na área urbana de Rondon, na Rua D. João VI, ao lado da Codecar.  Em 1958, compramos o Bar, Restaurante Rodoviária Floresta, na Av. Rio Grande do Sul, de propriedade de Alli Weimann. O estabelecimento comercial localizava-se na época em frente onde hoje é o Banco do Brasil. Eu vendia passagem de ônibus e trabalhava na cozinha fazendo as refeições. Ervino trabalhava no Bar, Restaurante, com serviço de táxi e entrega de mercadorias que vinham de São Paulo para Guaíra, Porto Mendes, Porto Britânia e região (com um Jeep, uma Kombi e um Aero Willis). Também fomos donos, por um curto período, do conhecido Salão Weiss. No início dos anos sessenta, trabalhamos e fomos sócios com a família Hensel, no Hotel, Restaurante e Rodoviária no Edifício Lamb. Anos depois vendemos a nossa parte para o senhor Eldor Lamb. Antes de meu marido falecer tínhamos a Churrascaria Carroça, na Av. Maripá, defronte a atual Panorama. Sempre participei em atividades sociais e religiosas.  Desde o início atuei e participei como membro da Igreja Martin Luther, integrei o coral por muitos e muitos anos, fui presidente do grupo de mulheres da OASE, por três mandatos (1969-1970, 1989-1991, 1994-1995). Como participante do Clube de Idosos “Paz e Amor”, fui eleita a primeira rainha da “Terceira Idade”, em 1999. Primeiro representando o Clube, em seguida, a nível municipal e, por fim, representando o município a nível regional em Cascavel.  

5. Estamos em tempo de aproximação do Natal e de Ano Novo, como era a preparação destes festejos naqueles tempos pioneiros?

Todos os anos iniciávamos os festejos de Natal, plantando o “pinheirinho”, quando tinha um bom tamanho, nós cortávamos e ornamentávamos na véspera do dia 24 de dezembro. O primeiro pinheirinho no primeiro Natal em Marechal Rondon conseguimos com o senhor Borowski, que morava perto de nossa residência. Lembro que muitas famílias compravam o pinheirinho da família Dietrich, que morava no Arroio Fundo, e também do senhor Guido Rockemback, na Quinta das Seleções. Anos depois plantávamos o Pinheiro-do-Paraná e de uns dez anos para cá conseguimos a muda do Pinheiro alemão . Quando os filhos eram pequenos ornamentavam o “pinheirinho” com enfeites natalinos e um pequeno presépio. Faz um bom tempo que ornamentamos todos os anos somente a árvore de Natal.

6. Faz parte da tradição alemã a montagem da coroa de Advento, onde era buscado o material para a sua confecção?

A tradição de minha família foi, no início, confeccionar a coroa de Advento com um ramo ou galho de pinheiro, no qual colocávamos como ornamento os prendedores com suporte de porta vela (pequenas velas coloridas). A coroa sempre foi colocada na porta principal no dia do Advento. Depois que as coroas de Advento foram confeccionadas e vendidas pelo comércio, nós compramos e utilizamos coroas mais modernas.  Retiramos os ornamentos natalinos e a coroa de Advento no dia 06 de janeiro.  

7. Para quem não tinha trazido material junto com a mudança, onde as famílias compravam aqui a ornamentação de Natal?

 A ornamentação de Natal veio com a mudança. Ainda enfeito o pinheirinho da minha casa com as bolas de Natal que vieram de Piratuba ... Com o tempo fomos comprando novos enfeites no Bazar Schmitz e, no momento, no comércio em Salto Del Guairá, no Paraguai. Nos primeiros anos, ao ornamentar o “pinheirinho” utilizamos também as pinhas do pinheiro, filetes de musgos retirados de árvores, o algodão (imitando a neve), pequenas velas coloridas, bolas coloridas, algumas pintadas, enfeites tradicionais como sinos e anjos que enfeitam a árvore natalina de várias cores e formatos de cristal de vidro muito fino, representando os frutos da árvore simbolizando Jesus, os talentos, os dons, as boas ações, o amor, o perdão e a esperança. A cada ano as bolas natalinas se desgastam perdendo o brilho, mas cada vez mais cheias de lembranças e emoções. Assim como, recentemente, o uso de bolas natalinas e enfeites modernos e o uso dos pisca-piscas com várias luzes coloridas. Misturando no “pinheirinho” os enfeites antigos com os novos. Na minha casa, a época do Natal e o próprio Natal sempre uma coisa muito festejada, muito alegre.  O único ano que não fiz a ornamentação do “pinheirinho” foi quando meu marido faleceu, em 1972.

 

10. Como aconteciam os preparativos das guloseimas (bolachas, cucas e pães especiais) e qual era o prato principal de almoço para a comemoração do Natal e Ano Novo?

Eu mesma sempre fiz as bolachas de farinha de trigo e de mel, os filhos adoravam ajudar a enfeitar e pintar as bolachas que tinham várias formas: redondas, retangulares, estrelas, pinheirinho e anjos. As bolachas eram coloridas com açúcar de cor, bolinhas coloridas e de chocolate. Fazia também cucas de fermento com recheio de requeijão, de uva com farofinha de farinha, açúcar e canela. Mais tarde entrou no cardápio o bolo de mel com frutas secas e nozes. Para mim a comemoração natalina sempre foi uma festa, expectativa e ansiedade muito grande das crianças, primeiro com os filhos quando íamos ao culto, ao chegar em casa os presentes já estavam postos em baixo do “pinheirinho”, era muito lindo ver a alegria e a festa dos meus filhos quando recebiam os presentes.A distribuição dos presentes muitas vezes, foi iniciada por mim ou por um Papai Noel ou por um dos meus genros, netos ou filhas, primeiro para as crianças e depois para os adultos. Hoje, a distribuição dos presentes acontece de forma de amigo secreto entre os adultos e as crianças mais velhas. Com a vinda dos netos e os bisnetos, para minha alegria, a tradição natalina continua nas casas de minhas filhas e netos. O jantar natalino sempre foi logo após a distribuição dos presentes. A mesa era posta com frutas, as guloseimas que foram feitas, maionese de macarrão com legumes coloridos, um assado de frango e porco. Nós iniciamos o jantar natalino com uma oração, agradecendo pela vida, saúde e pelas realizações recebidas durante o ano.   O almoço no domingo de Natal, quase sempre, foi servido arroz, saladas e carnes assadas. Algumas vezes, depois que chegaram os genros ou netos, foi servido churrasco.

11. Como se comemorava a passagem do Final de Ano?

Era muito raro comemorar a passagem do Ano Novo, a não ser quando fui convidada por amigas que tinham a tradição de festejar com um jantar à meia noite.  

Um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações!

12. Muito obrigado!

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