A Memorável Quinta das Seleções

09 de Maio de 2017

Se perguntarmos a pioneiros rondonenses, e mesmo do Oeste do Paraná, o que foi esse empreendimento, eles têm uma resposta pronta: o melhor fornecedor de mudas frutíferas para a formação de pomares nas propriedades naqueles tempos de começo. Estima-se que tenha vendido, entre 1956 e 1970, cerca de 300 mil mudas entre os moradores da região. A propriedade foi a maior fornecedora de espécies árvores frutíferas no triângulo formado por Guaíra/Cascavel/Foz do Iguaçu. Sabendo da alta qualidade da seleção das mudas produzidas, muita gente vinha de longe fazer suas aquisições de plantas.

Em outro momento, se indagarmos aos mesmos pioneiros quem era o fundador da Quinta das Seleções,  dirão palavras de elogio, que ele foi um homem idealista, inovador, de princípios, esmerado em produzir qualidade, trabalhador, pessoa de cultura, de ler muito (aliás, mesmo hoje com seus mais de 80 anos continua ávido pela leitura).

Os vizinhos lembram  dele como um homem bom, sempre disposto a ajudar nas necessidades de qualquer homem de bem, sem nunca pedir qualquer recompensa. Muitos mencionam do pronto apoio que tiveram dele para levar algum familiar doente ao hospital ou mesmo a esposa em trabalho de parto, independente da hora do dia ou da noite:

"Ele sempre estava pronto com seu Jeep."

Conversando-se com o senhor Guido Rockenbach, idealizador da Quinta da Seleções, logo se percebe que  é um homem de fortes convicções. Logo deixa claro que admira o ex-presidente do Estados Unidos, John Kennedy.  Fala também de Jaime Canet Junior, a quem considera pelo seu empenho em desenvolver o Estado do Paraná,  como melhor governador que o Paraná já teve.  Como milhares de outros brasileiros, é discípulo da doutrina do ambientalista gaúcho José Lutzenberger (1926 - 2002), defensor da agricultura ambientalmente correta.

O COMEÇO

Para conhecer detalhes do surgimento da Quinta das Seleções é preciso retroceder no tempo, para o começo do século XX, mais precisamente a 1904,  e chegar à vila de Santa Clara¹, no município de Lajeado (RS). Nessa localidade, os pais de Guido Rockenbach² eram renomados criadores de cavalos de alta linhagem. Por muito tempo, fornecedores de puros-sangues inglês para turfistas de Porto Alegre.

 ¹  Hoje município de Santa Clara do Sul, emancipado em 1992 e atualmente com um índice populacional de cerca de 5 mil habitantes. É conhecida como a "Cidade das Flores" do Rio Grande do Sul.

² O sobrenome Rockenbach com n, no Brasil tem sua origem no imigrante alemão Johann Daniel Rockenbach. Ele desembarcou no Rio de Janeiro em 17 de dezembro de 1828, seguiu viagem até São Leopoldo e , posteriormente, até São José do Hortêncio, nde fixou residência. Casou-se com Anna Margaretha Burg em 02 de maio de 1830, em São Leopoldo (RS). Tiveram oito filhos: Catarina, Mathias, João, Jakob, José Pedro, Margarida, Anna Gertrudes e Adão Aloísio. Johann Daniel é natural da cidade de Pünderich, às margens do Rio Mosela, (em alemão Mosel). A família tem nessa cidade uma longa tradição de produtores de vinhos finos, e descendentes do ramo que ficou na Alemanha permanecem na atividade.

               
O fundador da Quinta das Seleções é bisneto do imigrante Johann Daniel, neto João Rockenbach e filho de José Ernesto Rockenbach.

Por volta de 1904, conta Guido Rockenbach que seus pais, paralelamente às atividades de cavalos para pistas, implantam um viveiro de mudas frutíferas e plantas ornamentais de  alta qualidade genética - uma seleção das melhores espécies disponíveis no mercado. Essas plantas foram sucessivamente aperfeiçoadas por enxertia e outras técnicas de melhoramento.

 Com o crescimento do empreendimento e com a propriedade não permitindo uma expansão, a família muda-se para município gaúcho de Carazinho. Ali instalam a "Quinta da Paneira³", que tornou-se muito famosa em todo o Rio Grande do Sul, dada a alta qualidade de mudas que oferecia.

ᵌ Nome dado em homenagem à frondosa paineira que existia no local.

 

Foi neste ambiente onde a busca da qualidade era seguida à risca que cresce o menino e depois o jovem Guido, aprendendo com o pai a esmerada técnica de produção de mudas.

 

VINDA AO PARANÁ

Como centenas de solteiros em vias de casar, estimulados pelos pais para fazerem a vida nas novas frentes de colonização, Guido Rockenbach vem então à então General Rondon,   em 1955,  para adquirir um pedaço de terra. Compra às margens da estrada que vai para Vila Curvado, próximo à atual sede do Batalhão de Polícia de Fronteira.

 

⁴ Aqui já morava Henrique Scheidt, casado com sua tia Maria, vindos no começo da década de 1950, ele como agrimensor contratado pela Colonizadora Maripá. Fez a medição e a divisão dos lotes para a formação da futura vila de General Rondon.

Scheidt foi o primeiro agrimensor legalmente registrado no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, CREA, a chegar no oeste do Paraná. Ele também foi primeiro juiz de Paz nomeado para função em Marechal Cândido Rondon.

 

Adquirida a área que lhe convém, Guido logo trata de derrubar um pedaço de mato para construir a residência⁶  e um abrigo para de animais e equipamentos e área para implantar o viveiro de mudas.

 Contratou para a edificação da moradia os carpinteiros Oswaldo Hartmann⁶·¹  e (...) Trautmann⁶·², e como mestre de obras o senhor Ervino Finger⁶·³ .

 ⁶·¹ Oswaldo Hartmann casou-se no fim da década de 1950 com Elza Deuter, pioneira da atual sede distrital Iguiporã, no município de Marechal Cândido Rondon.  Nessa vila instalou uma casa de comércio de secos e molhados, ficando com ela até o começo da década de 1980, quando o casal se mudou para a sede municipal. 


⁶·² Quanto ao senhor Trautmann, não foi possível obter informações a respeito dele.


 ⁶·³ Ervino Finger foi um dos primeiros carpinteiros contratados pela Colonizadora Maripá. Começou trabalhando em Toledo, depois a empresa o transferiu para General Rondon.

 

Com tudo pronto, o  noivo Guido Rockenbach volta ao Rio Grande do Sul para casar-se com a senhorita Irmy Schmaedecke, uma das primeiras formandas em contabilidade da cidade de Carazinho. Nos dias que seguem ao casamento, o novo casal toma rumo ao Oeste do Paraná para fixar morada e encaminhar o empreendimento planejado.

Nos 15 anos seguintes, “Quinta das Seleções” se transformaria na melhor produtora de mudas de frutíferas e, não menos, de roseiras enxertadas da região.


A FUNDAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO RURAL

Idealista e convicto de que a cooperação mútua propicia resultados mais vantajosos aos que somam, Guido foi um dos motivadores, com outros agricultores pioneiros,  na segunda metade da década de 1950, para o surgimento da associação rural de Toledo, a cujo município a vila General Rondon pertencia. n

Enquanto a entidade estava na cidade Toledo, ela “não foi pra frente”, o que desgostava Willy Barth, diretor da colonizadora Maripá. Assim, certo dia o colonizador transferiu a associação para Marechal Rondon e a entregou nas mãos de colonos locais para fortalecê-la e “fazer funcionar”. Acertou também com o pioneiro e agricultor Alfonso Diesel para assumir a presidência da entidade classista.

Em Marechal Cândido Rondon, de acordo Rockenbach, a associação logo se torna forte e estabelece uma boa estrutura de apoio aos seus associados.

A primeira sede da entidade foi à Avenida Rio Grande do Sul, próximo da delegacia de Polícia Civil, no terreno onde hoje está instalado o prédio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Lembra Rockenbach que os primeiros funcionários da entidade classista foram os pioneiros Hilário da Cunha e Ercy Sturm.

A antiga associação rural, anos mais tarde passa por transformações e resulta na criação de dois sindicatos, o anteriormente referido e o Sindicato Rural Patronal, ambos ainda existentes.


OS DESFILES NA FESTA DO MUNICIPIO

Como líder comunitário e amigo de Arlindo Alberto Lamb, Guido Rockenbach é um dos grandes incentivadores junto ao primeiro prefeito eleito de Marechal Cândido Rondon para que durante as festas do município houvesse o desfile de carros alegóricos para destacar o pioneirismo e a grande força da comunidade.

A iniciativa pioneira, como visto, é reeditada a cada novo aniversário de emancipação politico-administrativa de Marechal Cândido Rondon.. O próprio Guido Rockenbach participou de 22 desfiles.

Segundo a pioneira e professora Edite Feiden:

 [...] este homem cultivou a terra e colheu maravilhas! Quando dos desfiles, expunha alegoricamente os frutos da terra e as cítricas me deixavam com água na boa”.

Outra rondonense, Maria de Oliveira, lembra saudosa:

[...]e as rosas, então... maravilhosas!”.

 

(Este maaterial foi transcrito do Jornal O Presente, páginas 04, edição dos dias 10 e 24 de julho e 07 de agosto de 2015).

 


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