A Repressão na Fronteira e a prisão de D. Manoel Könner

09 de Maio de 2017

              A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial integrando a coalizão dos Aliados foi prejudicial para as colônias alemãs, italianas e japonesas existentes no território brasileiro. Os países de suas origens formavam o bloco do Eixo, contrário aos Aliados.

              A histeria tomou conta dos órgãos de segurança nacional, que viam nestes núcleos fortes organizações de apoio ao nazismo e fascismo e grupo de reacionários combativos em favor da política hitlerista.

             Em 1942, Getúlio Vargas criou uma legislação específica que dava às forças policiais e militares ampla autoridade de controle e repressão sobre as populações de ascendência alemã, italiana e japonesa. A total autonomia foi um desastre. Os abusos e atrocidades cometidas por policiais e militares se generalizaram contra os três grupos étnicos.

            Nossos antepassados conhecem bem o que foram aqueles tempos de exorbitância e excessos. Nada de falar alemão, italiano e japonês; invasão de residências para recolher material editado em uma das três línguas, apreensão de rádios para não serem ouvidos noticiários estrangeiros, etc.

            Quantas pessoas levaram tapa no rosto, pontapés, ou foram presas e jogadas em cadeias ou mesmo mortas por policiais por não saberem se expressar em português.


            A REPRESSÃO

            No Oeste do Paraná, a ação das autoridades se concentrou sobre principiante colônia alemã em Foz do Iguaçu. Circulavam rumores de que esses colonos representavam uma ameaça à segurança nacional porque muitos colaborariam com o nazismo.

            Por trás desses boatos, pessoas interessadas em ficar de bem com as autoridades e aproveitadores de olho nas terras dessa gente inocente. Muitos alemães foram presos, confinados e torturados. Há informações de que houveram mortes.

           Conta o jornalista Aluízio Palmar, no texto “Prisões na colônia alemã de Foz do Iguaçu”* que foram presos os colonos Carlos Rahmeier, Kurt Mahler, Martin Nieuwenhoff, Gustav Leninger, a família Roth, Kurt Steiner, August Gunter e outros.

           (*)<http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/840276>. Acesso em 25/06/2015.

           “Depois das primeiras prisões, o medo se transformou empânico e os colonos passaram a viver apreensivos. O ambiente se tornou mais tenso após a morte do tenente Nelson Fleital, que servia no Batalhão de Fronteiras. Algumas famílias abandonaram tudo que possuíam e esses foram tomados pelos aproveitadores, muitos deles mesmo alcaguetes responsáveis pelos boatos”, relata Palmar.

           O escrivão policial Aracy Albuquerque Neira, lotado na fronteira, é apontado como um dos maiores responsáveis pelas perseguições e prisões de alemães e até de mortes, em Foz do Iguaçu. Testemunhas afirmam que o agente tinha as “costas quente”, por parte do delegado local Cláucio Guiss, para suas ações.

           As mesmas testemunhas também asseveram que Guiss e agrimensor da prefeitura de Foz do Iguaçu Otto Kucinski foram responsáveis pelo repasse de noticias à central de polícia em Curitiba, dizendo “que alemães de Foz do Iguaçu estavam se armando e que durante as reuniões gritavam a famosa saudação nazista ‘Heil Hitler’” (Palmar). Forjavam junto aos superiores que o núcleo alemão era a base de espionagem do Eixo.

    

           A Prisão de D. Manoel Könner

          Em 1937, chegava a Foz do Iguaçu o arquiduque austríaco Albrecht von Habsburg, acompanhado de uma pequena equipe de técnicos. Fazia ponto na cidade das Três Fronteiras para depois seguir viagem para o Paraguai, onde pretendia movimentar um megaprojeto de colonização. A ideia do príncipe não vingou no país vizinho, sem saber-se das causas do insucesso. É bem possível que os desdobramentos da Segunda Guerra Mundial tenham levado a isso.

          Enquanto ficou em Foz do Iguaçu, o nobre europeu e comitiva se hospedaram na sede da prelazia católica local, na época a maior diocese do Paraná – das margens do rio Ivaí, além de Campo Mourão, e na banda leste até às barrancas do rio Cavernoso, no município de Cantagalo.

          Os hóspedes estrangeiros permaneceram uns 30 dias na cidade, aproveitando para conhecer em detalhes a região, se bem se conhece a curiosidade dos europeus.

          Antes de partir para a capital paraguaia, Assunção, o príncipe Albrecht pediu permissão aos padres para deixar ali alguns caixotes até março do ano seguinte, com a promessa de apanhá-los na passagem por Foz do Iguaçu, quando retornaria à Europa. Os religiosos aquiesceram o pedido, sem ver na gentileza qualquer problema.

          Não se sabe ao certo, mas Albrecht von Habsburg e comitiva não foram buscar as caixas, as quais se tornariam em 1942 um tormento para Dom Manoel Könner* que acabara de assumir a prelazia em substituição ao monsenhor Guilherme Maria Thiletzek.

          (*) Era natural de Sab-Schütz, na atual República Tcheca. Esteve vários anos na África como missionário antes de ser enviado ao Brasil.

          Sem nada saber sobre o que continham os caixotes deixados pelo arquiduque, mesmo jurando total inocência, D. Manoel foi preso em 19 de janeiro de 1942, acusado de cometer crime contra a segurança nacional. Por trás da prisão do religioso estaria o escrivão de policia Aracy Albuquerque Neira. O policial alegou que a prisão se dava por conta do material encontrado nas caixas: arma de caça, munição, discos de música alemã, materiais de farmácia, entre outros.

          Em carta aos superiores em Curitiba, o delegado regional de policia, Gláucio Guiss, uma vez mais, na ânsia de mostrar serviços, extrapolou nas denúncias, tal qual feito com a prisão dos alemães.

          Asseverava que D. Manoel fora detido porque estava de posse de material bélico e munições de guerra, e que o preso estava  sendo encaminhado algemado à capital do Paraná para ser processado. Na missiva também acusava que os padres da congregação do Verbo Divino formavam “uma grande rede de espionagem alemã no Brasil”.

          Apesar de todas as provas que o inocentavam, Dom Manoel foi julgado em 09 de outubro de 1943 pelo Tribunal de Segurança Nacional e condenado a três anos de prisão em regime fechado. Somente a interveniência de seus confrades junto à Dona Carmela, esposa do então Ministro de Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, uma fervorosa católica, restabeleceu a imediata liberdade ao prelado e a anulação do processo de condenação.

 

         REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS:

PALMAR, Aluízio. Prisão do Pároco de Foz.<https://www.documentosrevelados.com.br/foz-do-iguacu/prisao-do-paroco-de-foz-1a-parte/> e <https://www.documentosrevelados.com.br/foz-do-iguacu/prisao-do-paroco-de-foz-do-iguacu-2a-part>. Acesso em 25.06. 2015.

SILVA, Micael Alvino da. Fragmentos de Uma História Paranaense. <http://intranet.uniamerica.br/site/revista/index.php/historianafronteira/article/view/71>. Acesso em 29 .05. 2015.

MEMÓRIA RONDONENSE <http://www.memoriarondonense.com.br/calendario-historico-single/07/9/>. Acesso em 30.06 2015.


Compartilhe

COMENTÁRIOS

Memória Rondonense © Copyright 2015 - Todos os direitos reservados