A saga do imigrante Emil Priesnitz

15 de Maio de 2017

Zyrardow, 1890. Cidade polonesa em Warschau (Varsóvia). Com cerca de 30 mil habitantes, sua principal atividade econômica, a indústria têxtil.

Naquela época, Varsóvia estava sob o domínio russo. Consta que dois empresários locais aderiram ao pedido do czar russo Nicolau Alexandrowitsch, em 1868, para construírem uma tecelagem em Zyrardow, sob a condição de trazer trabalhadores de tecelagens da Áustria.

Surgiu então que Emil Priesnitz e Franz Ludwig, dois tecelões e amigos inseparáveis, e mais outras pessoas, outras famílias, das quais não sabemos os nomes, mudaram-se de Freudenthal¹ (Áustria) para Zyrardow. Ali, durante vários anos trabalharam juntos na fábrica têxtil. A jornada era de seis dias por semana, nove horas por dia e recebiam um salário que não era bom.

¹ Localiza-se na Silésia, na atual Polônia. Na época que os dois tecelões emigraram para Zyardow, Freudenthal pertencia ao Império Austro-Húngaro e a cidade se destacava por sua indústria têxtil .

Vieram, então, propagandistas enviados por Dom Pedro II incentivando os operários e mais outras pessoas residentes em Zyrardow a imigrarem para o Brasil, sempre alegando que a terra brasileira era muito boa. Também foi dito que em pouco tempo haveria uma grande guerra na Europa, abrangendo muitos países, como a Rússia, Áustria e Alemanha, o que pioraria ainda mais a situação difícil já vivida. Além de tudo isso, foi prometido que ninguém precisava prestar serviço militar, assim como também os filhos estariam isentos desse compromisso. Somente precisavam se preocupar em trabalhar, fazer negócios - livres de preocupações e perturbações. As promessas eram boas, além das expectativas. No entanto, ao chegarem ao Brasil os imigrantes viram que as promessas não correspondiam à verdade. A grande maioria de imigrantes se arrependeu de ter deixado a Europa, mas não tinha mais volta. Era preciso encarar a realidade, arregaçar as mangas da camisa e construir o futuro às custas de grande sofrimento. 

A vinda de meu avô

Foi nessa época de propaganda dos enviados do imperador brasileiro que Emil Priesnitz e Franz Ludwig resolveram, juntos com suas famílias, enfrentar uma grande aventura imigrando para o Brasil, a terra prometida. Na Europa, Emil Priesnitz e sua esposa Francisca (nascida Hanke) tiveram uma filha, Ella; e mais dois  filhos, Rudolf e outro que faleceu durante a viagem em alto mar, aos 12 anos de idade, do qual não sei o nome. Sempre foi evitado tocar nesse assunto, para não reviver ou lembrar da grande dor causada pela tragédia. Também, ao certo não sabemos a causa mortis, mas meu pai falava em Seekranheit, mais ou menos epidemia do mar ou epidemia oceânica.

Em documentos deixados por Franz Ludwig foram encontrados relatos da viagem. Inclusive, em certa passagem Ludwig fala sobre a cerimônia fúnebre de sepultamento do menino. Relata que ele e o capelão do navio cantaram durante o ofício religioso. Diz ainda que foi a parte mais difícil, mais negra, e mais comovente de toda a viagem.

Eu quero crer que foi mesmo, se em uma situação normal já é a maior dor do mundo perder um filho, que dirá em alto mar levar o corpo do filho, largar no mar para ser dragado pelas ondas.

A viagem de Hamburgo para o Brasil durou mais de um mês, chegando ao Rio de Janeiro. Ali as famílias Priesnitz e Ludwig ficaram quatro dias na Ilha das Flores. Após, seguiram para Porto Alegre em um navio a vapor costeiro, provavelmente o  “Continentalista". Da capital gaúcha, as duas famílias viajaram com outro navio a vapor Rio Taquari acima, até Porto Mariante. Dali, com seus pertences carregados numa carroça de bois, eles se encaminharam para Venâncio Aires. Dessa localidade, onde permaneceram durante dois dias para abrigarem suas famílias na residência de Ignatz Müller, os dois imigrantes foram a pé até Linha Brasil, distrito e atual município de Santa Cruz do Sul, onde estavam localizadas as terras que receberam.

Emil Priesnitz e Franz Ludwig construíram cada um seu rancho no respectivos pedaços de chão que haviam recebido. Com as moradias prontas, os dois voltaram para buscar suas famílias. Em suas propriedades  se dedicaram ao trabalho agrícola. 

No Brasil,  Emil e Francisca tiveram ainda o filho João (meu pai), uma filha, Anna e o filho Fritz (??? ou ???). 

Meu pai

Muitos austríacos, poloneses e alemães se interessaram em vir ao Brasil. Ao chegarem ao Rio Grande do Sul, os poloneses e alemães se separavam. Os alemães se estabeleciam mais ao sul, na depressão central. Os poloneses mais para a serra, como Erechim, Santo Ângelo, Ijuí e assim por diante, no planalto. Inclusive, meu pai, João Priesnitz, quando se casou com Emma Francisca Schöninger², foi morar em Santo Ângelo, Linha Burity. Alí nasceram seus primeiros seus filhos: Manfred, Erna, Elsa, Helmuth, Frieda e Seobald.

² Ela é filha do casal João Schöninger e Elizabeth Peiter. 

Mais tarde, meu pai e sua família  transferiram residência para Belo Centro, na época distrito de Santa Rosa (RS), onde nasceram os filhos Otto e Brunilda (Bruni). Belo Centro é hoje o município de Tuparendi.


Ramificação:

- Manfred casou-se com Hilda Ries e tiveram quatro filhos e uma filha, dos quais dois filhos falecidos.

- Erna casou-se com Arnaldo Nether e tiveram cinco filhos e cinco filhas, dos quais três filhos e uma filha falecidos.

- Elsa casou-se com Lindolfo Rehbein e tiveram  dois filhos e uma filha, ambos já falecidos.

- Helmuth casou-se com Selma Fischer e tiveram  três filhos e uma filha. 

- Frieda casou-se com Leopoldo Bratz e tiveram um filho e uma filha, ambos falecidos.

- Seobald casou-se o com Aninha Schubert: três filhos e três filhas, dois filhos falecidos.

- Otto casou-se com Norma Emmel e tiveram um filho e duas filhas.

- Brunilda (Bruni) casou-se com Eno Thessing, de cujo casamento nasceram o filho Carlos (falecido) e a filha Elizabeth

Dos oito irmãos estou eu aqui (em 23 de maio de 2017), sozinha sem meus pais e sem meus irmãos. Tal qual a música diz:

         Mui longe e distante,
         sozinha a chorar
         Meus pais e irmãos
         com Deus foram morar.

         Sobrou minha filha
         meus netos também,
         A razão de minha vida
         são eles Amém.

 

Uma historia a parte em relação à Família Priesnitz


Em 1890, quando Emil Priesnitz tomou a decisão de imigrar para o Brasil, seu irmão Karl, solteiro, resolveu acompanhá-lo. Todavia, sem se saber ainda as razões, Karl não embarcou em nenhuma das três embarcações com destino ao Brasil. Assim, os irmãos não mais souberam de um e do outro.

Meu avô Emil passou a vida inteira preocupado com o destino do irmão. Suspeitava que Karl  talvez tivesse tomado outro navio e desembarcado em algum porto brasileiro que não fosse o Rio de Janeiro ou nem embarcado. 

Apesar de toda a busca, meu avô não logrou êxito em saber sobre o destino do irmão. Antes de falecer, meu pai prometeu ao seu pai que iria continuar a missão da procura. Mas também nada descobriu. Assim como meu pai fez a promessa, eu também fiz a ele de que não "entregaria os pontos" e procuraria dentro de minhas possibilidades alguma informação sobre o tio-avô Karl.

Pois bem, vejam só, surgiu então através do telefone ou da lista telefônica, não recordo mais bem, o nome Priesnitz. Descobri que descendentes de Karl Priesnitz, irmão de meu avô, moram em Indaiatuba, SP.  Tive vários  contatos via telefone com eles:

          José Jair
          José Luís
          Alfonso
          Albino e Neusa José
          Maria Célia
          Claudinei José
          Margarida Aparecida
          Josefa Lira, filha de Francisca
          e outros.

Conforme consta, Karl tinha um motivo que impediu a vinda junto com o irmão para o Brasil. Casou-se na Europa e, quando já era pai de três filhos, veio para o Brasil. Segundo informações que tenho, chegou em Santos (SP), de onde foram para Indaiatuba trabalhar na colheita do café (Pesquisa e texto original de Brunilda “Bruni” Priesnitz Thessing, reescrito para o projeto "Memória Rondonense"). 

         


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