Professor Elio Migliorança e a sua vinda para Nova Santa Rosa

03 de Agosto de 2021

 

RECORDAR É VIVER – MEMÓRIAS E HISTÓRIAS

03.08.2021

Este relato foi escrito no dia 3 de agosto de 2021 e publicado no dia 4. Contém um relato marcante para a minha vida e minha trajetória profissional.

Neste dia faz 50 anos que pela primeira vez eu pisei nesta terra de Nova Santa Rosa.

Como foi que tudo isso começou e como eu cheguei aqui? Pretendo escrever apenas para registrar esta parte da história da minha vida.

Em Nova Santa Rosa nos anos de 1970 já existiam o Ginásio Nova Santa Rosa e o Colégio Comercial Paulo Sarasate. O Ginásio havia sido criado em 1964 como Instituto de Ensino Tiradentes e dois anos depois, em 1966 transformado para Ginásio Nova Santa Rosa, como estabelecimento integrante da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade- (CNEC). O Colégio Comercial Paulo Sarasate, escola de 2º Grau, profissionalizante, com o curso de Técnico em Contabilidade foi criado no ano de 1970. Apenas como referência da importância deste curso, o Técnico em Contabilidade na época, exercia a profissão de Contador, com registro no CRC, profissão que para ser exercida hoje é necessário cursar a Faculdade de Ciências Contábeis.

No ano de 1971, um professor de Matemática que era dentista nesta cidade, se não me falha a memória era o Dr.Renato, este dentista resolveu mudar residência para o município de Terra Roxa e com isso faltava professor de Matemática no Ginásio e 2º Grau.

O Diretor do Colégio e do Ginásio na época era o Dr.Manoel Alves dos Santos, também dentista. Resolveram então enviar dois professores, O Prof.Milano Adolfo Scheidt e o Prof.Oldemar Baldus, em busca de alguém para preencher a vaga existente.

Sairam eles, com o taxista da cidade o Sr.Haroldo Lindner, para a cidade de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul à procura de um professor. Tinham um motivo. O Prof.Milano cursava Filosofia na Faculdade de Palmas/Pr, e tinha um colega de curso, o Prof. Pinheiro que era professor naquela cidade do Rio Grande do Sul. Partiram e quando chegaram em Frederico Westphalen, numa comunidade do interior para convidar o Professor para vir dar aulas aqui, enfrentaram uma dura resistência da comunidade, porque na época professores eram “mercadoria rara”, não existiam faculdades como existem hoje.

Para ter uma ideia do que estou dizendo, no Paraná existiam faculdades em Curitiba, Ponta Grossa, Maringá e Londrina, e no ano de 1970 foi criada a Faculdade de Palmas.

O professor Milano queria muito o Prof. Pinheiro porque além de bom professor ele também era bom de bola e o Prof.Milano gostava muito de futebol.

Enfim, diante da resistência da comunidade, eles tiveram que desistir da ideia e até sair ligeirinho de lá, pois a comunidade não admitia a hipótese de perder o seu professor.

Diante disso, resolveram ir para a cidade de Chapecó/SC onde também não conseguiram encontrar ninguém disposto a vir para este sertão do Oeste do Paraná.

Depois foram para Xanxerê e Xaxim, ambas em Santa Catarina onde também não conseguiram encontrar interessados.

Aí, o raciocínio foi simples. Em Palmas tem faculdade, lá é o “ninho” dos universitários, então vamos para lá, onde o Milano era conhecido porque era aluno da faculdade, e chegando lá começaram a fazer contatos com Universitários, que na verdade não eram Universitários porque a Faculdade de Palmas não era uma Universidade, mas enfim contataram alunos da faculdade, que no relato vou chamar de Universitário para facilitar a narrativa.

O primeiro contato foi com um Universitário do curso de Letras, chamado Juarez Jordani. Ele não se mostrou interessado porque sua família era de São Jorge do Oeste, município da região Sudoeste do Paraná, e ele já tinha conseguido aulas na sua cidade, portanto ele iria trabalhar lá.

O próximo convite foi para outro Universitário também do curso de Letras , o jovem Marcos Rossoni. Ele havia feito concurso para trabalhar no Correio e estava se preparando para ir ao Rio de Janeiro fazer o treinamento para o seu novo emprego.

Bem, esgotadas as possibilidades mais interessantes, daqueles que além da faculdade eram “bons de bola” não sobrou outra alternativa do que pegar o que sobrou, mesmo que não fosse a melhor opção.

Além de “ruim de bola” eu cursava História e aqui a necessidade era para a área de Matemática, já que é bom lembrar que o Professor de História na época aqui no Colégio era ninguém menos que o nosso querido e sempre lembrado DOM SEVERINO, Doutor em História pela Universidade de Sorbonne/Paris/França, a mais famosa Universidade do Mundo, aliás é bom lembrar, que nesta época nós éramos a única escola de 2º Grau do Brasil que tinha um DOUTOR dando aulas, já que Doutores existiam apenas nas Universidades e eram poucos.

Voltando ao tema, a necessidade aqui era Matemática, e em conversa comigo relatei que embora cursasse História, porque na Faculdade de Palmas só existiam estes cursos – Letras, Filosofia, História e Pedagogia, mas que eu além de gostar de Matemática, tinha tido excelentes notas em Matemática no meu curso de 2º Grau no Colégio Estadual Leonel Franca em Palmas, onde fiz o 2º Grau. Acharam que isso era suficiente.

Explicaram onde ficava Nova Santa Rosa, o que para mim era um mistério, afinal a cidade mais próxima daqui que eu conhecia na época era Pato Branco, que fica há 300 km daqui. Mas disseram que aqui era uma região nova, que tinha muito para progredir, que havia futuro nesta região, que o Colégio pagava seus professores em dia, inclusive que o Prof.Oldemar era o tesoureiro do Colégio, e enfim, como eu estava cursando um curso superior para ser professor, achei que era uma proposta interessante já que meu futuro era a carreira do Magistério.

FECHAMOS. Contrato feito, eles quiseram garantir que eu realmente viria.

Eu naquele momento trabalhava no Cartório de Palmas, meu patrão era o Cartorário Sr.Emar José Leinig, a quem devo o inicio da minha vida profissional, um outro capítulo desta história que um dia ainda vou contar, e aí eu pedi uma semana de prazo para organizar as coisas sob minha responsabilidade no Cartório e para comunicar ao meu Chefe que eu estaria saindo para esta nova profissão.

Foi aí que eles quiseram garantir minha vinda, então pediram para que eu enviasse parte da “minha mudança” com eles, viria no táxi e eu traria depois o restante das minhas coisas.

Foi fácil, Enchi uma caixa de papelão, de tamanho médio com meus calçados e mais alguns objetos pessoais e dois casacos, isso então veio com o taxi, o restante da mudança, uma mala de roupas, eu trouxe depois.

Recebi as orientações precisas de como fazer para chegar aqui.

“Bem, é o seguinte, você chega em Pato Branco, pega ônibus para uma cidade chamada Cascavel. O ônibus fazia esse trajeto indo até Três Pinheiros, no município de Guarapuava, dali descia pela BR 277 passando por Laranjeiras e Guaraniaçu até Cascavel. Em Cascavel você pega ônibus para uma cidade chamada Toledo. Chegando na rodoviária (a antiga rodoviária de Toledo) você sobre até a primeira esquina, dobra à esquerda e ali tem um Bar, que é o ponto de ônibus do “Nego Nagel”. Este ônibus sai às 11 horas da manhã para Nova Santa Rosa, tua passagem já estará paga, então é só embarcar e lá pelas 13:30 horas mais ou menos, se nenhum contratempo acontecer, o ônibus vai chegar, e nós vamos te esperar no primeiro ponto de desembarque da Vila que era onde hoje está o Posto Ipiranga, pois ali começava a Vila”.

Bem, instruções recebidas e devidamente anotadas, nos despedimos e eles começaram a viagem de volta, isso era um domingo, dia 25 de julho de 1971.

Na segunda feira fui para o meu trabalho no Cartório, comunicar ao meu patrão que eu estava de saída, e tinha uma semana para organizar as coisas, deixar tudo em ordem para me despedir. Ele não quis acreditar que fosse verdade, me fez uma contraproposta, mas eu já tinha dado minha palavra e era minha intenção mesmo viver esta experiência da nova profissão. Na sexta feira me despedi e no sábado pela manhã, dia 31 de julho fui para a casa de meus pais em Mariópolis, para contar tudo o que tinha acontecido, já que na época telefone não existia e dizer que eu partir para “o fim do mundo”, uma cidade que ninguém conhecia chamada Nova Santa Rosa, que ficava muito longe.

Depois de muitos conselhos, na segunda feira dia 1º de agosto viajei até Pato Branco para comprar passagem e aguardar a saída do ônibus, no início da noite de segunda feira. Rodamos a noite inteira para chegar às 7 da manhã de terça feira dia 2 de agosto em Cascavel, na antiga rodoviária que ficava no centro da cidade. Ali procurei então passagem para a cidade de Toledo, com a Princesa dos Campos, onde as 8 horas saiu o ônibus que demorou 2 horas e 15 minutos para chegar em Toledo.

Chegando em Toledo, logo encontrei o Ponto de Ônibus do Nego Nagel, e as 11 horas começou a ultima etapa da viagem. Tudo era novo, muito mato, praticamente todo o trajeto de Toledo até aqui era no meio do mato, clareando apenas quando chegava nas Vilas, onde ao redor das vilas já existiam lavouras, todas elas feitas de forma braçal, já que tratores ainda não existiam por aqui. As roças eram feitas nas áreas onde o mato tinha sido derrubado.

Bem, as 13:45 horas mais ou menos nós chegamos, e como tinha sido combinado, lá estavam os professores Milano e Oldemar me aguardando.

Era o dia 03 de agosto de 1971 – exatamente 50 anos atrás.

Recebido, naquele dia fiquei hospedado na casa do Professor Milano, a casa dele era onde hoje é o Prédio do Nicoli Hotel.

Fui no dia seguinte apresentado no Colégio como o novo professor, e claro, naquela época a chegada de um professor na Vila era um acontecimento raro e muito comentado.

Nesta data eu tinha 19 anos de idade e estava na metade do 1º ano do curso de História da Faculdade de Palmas. A faculdade era feita no regime de Férias, portanto permitia fazer a faculdade nas férias e durante o ano trabalhar como professor.

Alguns dias depois fui então hospedado em definitivo, num quarto que ficava ao lado da residência do Sr.Gustavo Fischer, que era Presidente da Diretoria do Colégio e pai do Sr.Armindo Fischer que foi o primeiro prefeito da cidade. Ficava atrás do prédio onde hoje é o Cartório Fischer.

Era um quarto muito confortável e suficiente para um professor que assim iniciava sua caminhada profissional.

CINQUENTA ANOS DEPOIS, ESTOU MUITO FELIZ COM TUDO O QUE CONQUISTEI E POR TODAS AS PESSOAS QUE DEUS COLOCOU NO MEU CAMINHO NESTA CIDADE: AMIGOS, CONSELHEIROS, MUITOS QUE ME AJUDARAM E AOS ALUNOS COM QUEM TIVE O PRIVILÉGIO DE DIVIDIR PARTE DA MINHA VIDA.

QUE DEUS ABENÇOE E RECOMPENSE TODOS AQUELES A QUEM EU DEVO MINHA VIDA PROFISSIONAL E PESSOAL AQUI NESTA QUERIDA CIDADE DE NOVA SANTA ROSA.

Elio Migliorança – 04 de agosto de 2021.


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