Visita do Presidente Ernesto Geisel

19 de Março de 1976

No dia 19 de março de 1976, Marechal Cândido Rondon recebeu a visita histórica do então presidente de República, Ernesto Geisel. O motivo principal foi a abertura simbólica da colheita da soja, que naquele ano produziu 200 mil toneladas. Geisel também inaugurou a segunda etapa do Programa de Eletrificação Rural e entregou aos agricultores da região 3.248 títulos de propriedade de terra.

Além de Ernesto Geisel, na oportunidade também esteve no município o governador Jayme Canet Junior. Eles foram recepcionados pelo prefeito Almiro Bauerman, pelo presidente da Copagril, Leopoldo Pietrowski, pelo ex-prefeito e ex-deputado Werner Wanderer, pelo general Hugo de Abreu e por milhares de pessoas que vieram de toda a região.

Segundo Werner Wanderer, foi ele quem fez o convite para a vinda de Ernesto Geisel. Em declaração publicada no livro Mídia e Memória, das jornalistas Ana Paula Wilmsen e Maria Cristina Kunzler, Werner garante que “o presidente não viajava. Ele era militar e não tinha costume de participar dos eventos. Então, a vinda dele para Rondon foi um fato histórico não somente para o município, mas foi destaque em nível nacional. Todo mundo perguntava o que havia acontecido para o presidente viajar para Rondon. E a visita de Geisel trouxe muitos benefícios. Por exemplo, na época era proibido criar municípios, mas as lideranças nova-santarrosenses aproveitaram a vinda de Geisel e falaram com o presidente e ele acabou autorizando a criação do município de Nova Santa Rosa. Outra coisa foi o Banco do Brasil, que foi criado em Rondon por causa da visita de Geisel. Também foi inaugurado um trecho de eletrificação rural, o que depois foi estendido em todo o município”.

Algo nunca visto

O radialista Dirceu da Cruz Vianna participou da cobertura jornalística da visita presidencial. Destacado para cobrir a chegada do presidente ao aeroporto, Dirceu conta que havia um esquema de segurança muito grande e nenhum repórter pode, durante a visita, entrevistar diretamente Ernesto Geisel. “Foi um tumulto, no bom sentido. Mas, foi gratificante”, garante o radialista.

“O presidente teve um aparato militar muito grande. Ele chegou ao aeroporto por volta das 10h00 da manhã e dali foi inaugurar a eletrificação rural em uma propriedade próxima. O palanque para o pronunciamento das autoridades foi montado na área onde hoje está localizada a prefeitura. Da área onde hoje está o Fórum até onde hoje é o jornal O Presente, aquilo estava coalhado de gente. Cerca de 12 mil pessoas! Nunca tinha visto algo igual”, lembra Dirceu.

Segundo ele, naquele dia grandes almoços foram servidos em pontos diferentes da cidade para celebrar a visita do presidente. Conforme o radialista, só no antigo Campo do Oeste, onde hoje está construído o Estádio Municipal Valdir Schneider, foi montada uma churrasqueira com mais de 100 metros: “também havia outros pontos onde foram preparados e servidos o almoço. Era como se todos nós, aquelas milhares de pessoas, estivéssemos almoçando junto com o presidente, que estava lá no Clube Concórdia”.

Ernesto Geisel permaneceu em torno de quatro horas em Marechal Cândido Rondon e deixou o município por volta das 14h00.

 

Fontes:

WEIRICH, Udilma Lins. “Histórias e Atualidades: perfil de Marechal Cândido Rondon”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2004.

WILMSEN, Ana Paula; KUNZLER, Maria Cristina. “Mídia e Memória: estórias dos veículos de comunicação do município de Marechal Cândido Rondon contadas por seus protagonistas”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2006

(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon - JULHO/20

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Entrevista com o jornalista Pedro Washington

 

― Caro Pedro Washington, o senhor que foi encarregado pelo governador Jaime Canet Júnior para vir a Marechal Cândido Rondon e ajudar na coordenação dos preparativos para a visita do Presidente Geisel,  conte detalhes dessa organização.

― Amigo Harto! O governador Jaime Canet Júnior  ficou preocupado com a  informação do deputado Werner Wanderer  de que a esposa do presidente Geisel aceitara o convite de  sua esposa Elizabete para visitar Marechal Cândido Rondon, então uma cidade de 25 mil habitantes e quatro distritos (hoje municípios) que somariam uns quarenta mil habitantes. O Presidente, claro, também viria. Descendente germânico como a maioria da população oestina  à época, a perspectiva entusiasmou o presidente Ernesto Geisel. Visita confirmada para o dia  19 de março de 1976.

Eu como assessor  do Gabinete do Governo  já tinha organizado outras vindas  do Presidente  ao Paraná no governo Canet  Júnior, sabia que só do grupo precursor do Presidente da República vinham mais de 100 assessores. Gente de todas as armas (Exército, Aeronáutica e até Marinha), além do exigente pessoal do Cerimonial. Um programa assustador!

Tudo começava por um detalhe significativo, logo contornado: o aeroporto da cidade não comportava um jato como o avião presidencial. A alternativa seria  vir até Foz do Iguaçu, num equipamento e dali para o aeroporto de Marechal Rondon  num Hércules, avião adequado a pistas mais curtas.

Como já desconfiava,  o governador Jaime Canet de ir até Rondon, ajudar na organização do evento. Ali permaneci por 15 dias.

A primeira reunião no clube local, fez com que eu  percebesse que não se tratava de uma população como a conhecia. Disciplina e boa vontade mostravam  que os cidadãos tinham consciência da responsabilidade que assumiam. Mais de 100 pessoas propuseram-se a ajudar. Foram formadas comissões  para todas as atividades que envolviam a recepção às comitivas dos governos federal e estadual.

O detalhamento chegou a tal ponto que, diante da perspectiva de atender a todos que viessem homenagear  o presidente Ernesto Geisel e o governador Canet, três refeições foram programadas. Afinal, a chegada do presidente estava prevista para as 10 horas da manhã e o embarque para Brasília, às 14 horas.

O almoço principal seria servida no Clube  Concórdia,  para 120 autoridades. Presidente, Governador, Prefeito local, deputados  federais e estaduais(representantes do município), Ministros, Secretários de Estado, Presidente da Câmara local e outras autoridades estaduais e federais.

No galpão da Cervejaria  ......,  um almoço para prefeitos, vereadores locais e da região, além de personalidades dos segundos escalões dos governos federal e estadual. Previsão de 500 talheres.

E as possíveis  40 mil pessoas da cidade e da região que viriam assistir à grande reunião programada para a praça .... Ficariam sem almoço?

Decidiu-se por um imenso churrasco gratuito a ser realizado em vários pontos da cidade.

Uma comissão ficou encarregada de conseguir doações de bois. Outras de preparar  as carnes e as instalações necessárias a cada ponto de churrasco. Até comissão de espetos foi formada. Um trabalho que reconheço que só em Marechal Cândido Rondon seria possível.

Enquanto tudo era montado, a Comissão principal “toureava” os exigentes precursores da comitiva presidencial. Até uma deliciosa carpa assada acabamos por comer, juntamente com eles na fazenda do Ireno Pedralli , além de outras hospitalidades. Mesmo com as exigências das etiquetas do Itamaraty, à partir dai começaram a fazer concessões.

Uma delas exigiu grandes negociações, nas quais valeu o prestigio que o governador Canet desfrutava junto ao presidente Geisel: o locutor teria que ser do programa oficial  Voz do Brasil. Acontece que a equipe de Canet contava com a eloquência e animação do seu apresentador oficial: Brasil Fº.

Concordaram com a substituição desde que a locução fosse feita com a sobriedade exigida pela Voz do Brasil. Na surdina,  e o Filho Brasil, com aval do governador, acordamos que o estilo formal seria usado até a chegada da comitiva até o palanque oficial. Dalí para a frente, Brasil ficaria encarregado, com sua animação habitual, de esquentar a festa. Mais de quarenta mil presentes aplaudiram o presidente entusiasticamente!

O resultado final é que, o próprio Chefe da Casa Militar, General Hugo Abreu, tão entusiasmado ficou que cumprimentou a equipe: “Todas as visitas do Presidente deveriam ser assim”.

Tudo correu à perfeição.

Nenhuma das visitas do presidente Geisel ao Paraná, e foram onze no período, pode sequer ser comparada à de Marechal Cândido Rondon. Do que ao início se apresentou como um “azedo limão”, as autoridades e o povo da cidade e de seus distritos fizeram uma “deliciosa limonada”.

Um detalhe curioso dessa visita narrei no livro que escrevi sobre fatos folclóricos da política do Paraná. Uma pessoa resolveu oferecer uma paca a ser servida no banquete, na mesa principal encabeçada pelo presidente Geisel, que por sinal, apreciou muito a iguaria.

Um repórter da Folha de São Paulo que acompanhava a comitiva presidencial soube do fato. Como à época já se começava a discutir regras de preservação ambiental, procurou informações sobre o assunto. Até que chegou a mim, assessor do governador, já alertado do questionamento. Travou-se, mais ou menos, o seguinte  diálogo: 

Jornalista: Você sabe que está se questionando o abate de pacas?

Assessor: Sabia.

Jornalista: E como vocês serviram uma paca logo para o Presidente?

Assessor: Você entrevistou a paca!

Jornalista: Como!

Assessor: Se tivesse entrevistado saberia que ela falava guarani. Foi um presente de um prefeito paraguaio.

A história da paca virou piada na Folha.

Estes são alguns detalhes da vinda do presidente Geisel a Marechal Cândido Rondon. Um abraço a grandes amigos que aí deixamos. Pedro Washington.

O jornalista Pedro Washington, um dos mais conceituados jornalistas políticos paranaenses, faleceu em  18 de maio de 2015. Entre as muitas funções que exerceu, foi ser chefe de gabinete do governador Jayme Canet Júnior e assessor do senador Zé Eduardo, conhecido como o “Homem do Chapéu”.

Entrevista recebida via e-mail harto.viteck@gmail.com, em 28 de fevereiro de 2015. 

* Exceto o cartão, as demais imagens são de propriedade do acervo de Almiro Bauermann. 

 


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