|| Rondonense Alfredo Krause: um taxidermista no Oeste do Paraná.

Pioneiros 09 de Abril de 2019

Este rondonense, de nascença em Santa Catarina, foi um hábil taxidermista com atuação por décadas na cidade de Marechal Cândido Rondon. 

O texto adiante , de Harto Viteck, descreve este artista e sua contribuição para o bem da Ciência. 


Alfredo Krause - pioneiro rondonense que prestou relevantes serviços à Ciência.

Alfredo Krause - pioneiro rondonense que prestou relevantes serviços à Ciência.

Ave taxidermizada por Alfredo Krause, pertencente à Marice Kleemann, residente no Paraguai.
Imagem: Acervo pessoal -

Ave taxidermizada por Alfredo Krause, pertencente à Marice Kleemann, residente no Paraguai. Imagem: Acervo pessoal -

Espaço de animais taxidermizados da exposição do Colégio Luterano Rui Barbosa, de Marechal Cândido Rondon. 
Imagem: Acervo Clecio Krause .

Espaço de animais taxidermizados da exposição do Colégio Luterano Rui Barbosa, de Marechal Cândido Rondon. Imagem: Acervo Clecio Krause .

Colheita de laranjas na chácara  de Alfredo Krause, ele em companhia da esposa Elly e dos sogros Amália (nascida Diesel) e Edmundo Arndt.

Colheita de laranjas na chácara de Alfredo Krause, ele em companhia da esposa Elly e dos sogros Amália (nascida Diesel) e Edmundo Arndt.

|| Exemplares de peles taxidermizadas por Alfredo Krause, da coleção do Dr. Friedrich Rupprecht Seyboth.
Imagem: Acervo da Família Seyboth.

|| Exemplares de peles taxidermizadas por Alfredo Krause, da coleção do Dr. Friedrich Rupprecht Seyboth. Imagem: Acervo da Família Seyboth.

|| Acomodação provisória do acervo do antigo

|| Acomodação provisória do acervo do antigo "Museu Sete Quedas", num espaço da casal comercial da família Matsuyama. Imagem: Acervo Clécio Krause -

|| Alfredo Krause e a cegonha artisticamente reproduzida para o Hospital e Maternidade Filadélfia.
Imagem: Acervo Clecio Krause.

|| Alfredo Krause e a cegonha artisticamente reproduzida para o Hospital e Maternidade Filadélfia. Imagem: Acervo Clecio Krause.

Desfile do carro alegórico do Hospital e Maternidade Filadélfia com a cegonha elaborada por Alfredo Krause e crianças nascidas na casa de saúde.
Imagem: Acervo da Família Seyboth.

Desfile do carro alegórico do Hospital e Maternidade Filadélfia com a cegonha elaborada por Alfredo Krause e crianças nascidas na casa de saúde. Imagem: Acervo da Família Seyboth.

Orquestra de trombones da Igreja Evangélica Martin Luther.
Alfredo Krause é o 4º, da esquerda à direita, na linha de frente.
Imagem: Acervo Clecio Krause .

Orquestra de trombones da Igreja Evangélica Martin Luther. Alfredo Krause é o 4º, da esquerda à direita, na linha de frente. Imagem: Acervo Clecio Krause .

|| Irmãos Clecio e Erci Krause, filhos de Alfredo Krause, nos anos pioneiros em Marechal Cândido Rondon.
Imagem: Acervo Clecio Krause.

|| Irmãos Clecio e Erci Krause, filhos de Alfredo Krause, nos anos pioneiros em Marechal Cândido Rondon. Imagem: Acervo Clecio Krause.

|| Começo da instalação da atual cidade de Marechal Cândido Rondon, começo da década de 1950.
Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause.

|| Começo da instalação da atual cidade de Marechal Cândido Rondon, começo da década de 1950. Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause.

|| Residência, 1º salão de baile e 1º bolão instalado  na atual cidade de Marechal Cândido Rondon, construído pelo pioneiro rondonense
Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause.

|| Residência, 1º salão de baile e 1º bolão instalado na atual cidade de Marechal Cândido Rondon, construído pelo pioneiro rondonense Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause.

Primeira residência com estio construída em Marechal Cândido Rondon no começo da década de 1950, construída por Henrique Scheidt, 1º agrimensor e que fez a mediação de terrenos e quadras  nos tempos iniciais da colonização em Marechal Cândido Rondon.
Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause.
Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause.

Primeira residência com estio construída em Marechal Cândido Rondon no começo da década de 1950, construída por Henrique Scheidt, 1º agrimensor e que fez a mediação de terrenos e quadras nos tempos iniciais da colonização em Marechal Cândido Rondon. Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause. Imagem: Acervo Clécio Krause - crédito de Alfredo Krause.

Tamanduá-bandeira, espécime  taxidermizado por Alfredo Krause.
Não se sabe se esta pela está em exposição no atual Museu Sete Quedas.

Tamanduá-bandeira, espécime taxidermizado por Alfredo Krause. Não se sabe se esta pela está em exposição no atual Museu Sete Quedas.


Rondonense Alfredo Krause: um taxidermista no Oeste do Paraná

 

Si tu ne racontes,
le sillon se refermera sur l’oubli
Et tout será perdu ...

Maurice Zermatten¹
 

Se não contares,
o sulco se fechará sobre o esquecimento
e tudo está perdido.


 

A notabilidade de seus trabalhos está presente em muitos países, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, e em especial na Alemanha. Esta última referência dada pela presença de imigrantes alemães que passaram a residir em Marechal Cândido Rondon², no período colonizatório³. "E sempre quando vinha alguma ‘autoridade’ de outros países, sei que vinham na nossa casa escolher quase sempre uma ave para presente (Krause, 2016).

No Paraná, exceto os exemplares em posse de particulares, as peles de animais preparadas por Krause podem ser vistas no Museu Sete Quedas, em Guaíra⁴, no museu de Foz do Iguaçu (no momento fechado) e no Museu de História Natural de Curitiba. “Uma harpia essa eu lembro que foi para uma faculdade do norte do Paraná. Agora não posso afirmar exatamente se é Ponta Grossa ou Maringá" (Krause, 2024).

"Meu pai também participou de uma exposição do Colégio Luterano Rui Barbosa, de Marechal Cândido Rondon. Levou para a mostra muitos animais taxidermizados. Muita gente visitou a exposição que deatacou o pioneirismo da cidade" (Krause, 2024). -- FOTO 1 --

Fora as peças que foram para instituições de cunho científico, centenas de animais taxidermizadas por Alfredo Krause, principalmente aves, foram levados de Marechal Cândido Rondon como presentes e lembranças. A pioneira rondonense Ilga Schneider, do começo da década de 1950, fala que presenciou essa procura: ― "Vivi no atelier do ‘seo’ Krause, pois, fui muito amiga de sua filha. Ele recebia muita visita de gente interessada em comprar uma ou outra peça ou mais. Vinha gente de muito longe” (Schneider, 2024).

Outra rondonense que compartilhou proximidade com a família Krause foi a pioneira Cleci (nascida Finger) Kleemann: "Conheci eles pessoalmente. Eram vizinhos do meu sogro. Gente muito correta, trabalhadora. Muito querida por todos. A esposa cuidava da chácara e de animais domésticos, enquanto o Alfredo trabalhava empalhando, principalmente aves. Meu esposo teve um pássaro empalhado pelo ‘seo’ Krause que hoje está com a minha filha, no Paraguai” (Kleemann, 2024). – FOTO 2 -

Em Marechal Cândido Rondon, grande admirador do taxidermista foi o médico pioneiro Dr. Friedrich Rupprecht Seyboth⁵, que possuía uma pequena coleção de exemplares taxidermizados (Seyboth, 2024). –- FOTO 3 --

 

Formação do Museu de Guaíra

“Todos os animais empalhados expostos no atual museu de Guaíra foram trabalhados por meu pai para o casal Matsuyama”. Segundo Krause (filho), a coleção ali está incompleta. “Um casal de macacos lanudos e saguis de várias espécies, os quais não avistei na visita que fiz ao museu (Krause, 2024).

Ao que se refere à formação do acervo de animais do Museu Sete Quedas, Ermínio Vendrusculo, residente na cidade de Guaíra e contabilista da família Matsuyama, assevera: “o Omar⁶ que foi funcionário do IBGE aqui, e ele é genro do Matsuyama, pai da Isabel. Ele tem muita pesquisa oficial e todas essas coisas. Indo na informação dele, ele disse que o Dr. Goro e o casal Matsuyama, Yoshiko e o Chico, como ele era conhecido, eles começaram o museu em 1956, catalogar espécies, comprar o lote e todas essas coisas para a construção. E depois, então, eles assim, inauguraram o museu em 1961, com a presença do governador do Estado do Paraná, o Ney Braga.  Então, ele veio a Guaíra para inauguração” (Vendrusculo, 2024).

Vê-se neste gesto do governador a dimensão de importância devotada à família Matsuyama e ao museu organizado por ela.

Sobre Ermínio Vendrusculo pode-se dizer, por sua longa presença em Guaíra, que se trata de uma “memória viva”. Conhece como poucos a história da cidade e é conhecido por todos: “cheguei em Guaíra em 1961 para o serviço militar e nunca mais deixei a cidade” (Vendrusculo, 2024).

O genro Omar do casal Matsuyama corrobora e legitima que foi Alfredo Krause que trabalhou na formação do acervo do museu de seus sogros: “Foi o alemão de Rondon⁷ que fez toda essa parte de empalhamento dos animais. Inclusive, com orientação de alguma coisa do Dr. Goro, que era um japonês que morava aqui em Guaíra, na época” (Vendrusculo, 2024).

 

Dificuldades com o Museu

Com a morte prematura do patriarca, começa para a viúva Matsuyama, conhecida como “Geny”⁸, uma etapa difícil em sua vida. As filhas casam-se meses depois e ela fica sozinha para tocar os empreendimentos da família e o museu. Sem alternativa, ela se vê obrigada a se desfazer do museu e vender os terrenos onde este estava instalado.

“Lá tinha uma área de cinco a seis lotes, com toda a arborização conservada, um bosque no centro da cidade. Ela ficou com necessidade de vender aquilo lá para fazer dinheiro. Aí que ela conseguiu uma negociação, doando o acervo do museu para a Prefeitura Municipal e aquela área foi comprada pela Copagril, onde foi instalado o supermercado que tem hoje” (Vendrusculo, 2024).

Com base na informação de Daniella Feiteira Soares, a negociação para transferência do acervo do museu para a Prefeitura de Guaíra não se deu de maneira imediata após a venda da área: “Nos fundos de sua loja, uma amostra do que foi o Museu Sete Quedas, de propriedade da família: bichos da região empalhados, centenas de fotografias e recortes de jornais” (Soares, 2007, p. 13). – FOTO 4 --

Isso revela que as peças do museu foram provisoriamente acomodadas num canto em seu empreendimento comercial.  

O novo Museu Sete Quedas, agora administrado pela Prefeitura Municipal, foi inaugurado em 09 de março de 2006 e está localizado na antiga sede administrativa da Companhia Matte Larangeira (Straube & Urben Filho, 2010: 5).

A municipalidade já tinha recebido o acervo em 1990. Alojou-o num “edifício municipal”, conquanto permanecia como propriedade particular. Somente a inauguração oficializou, de fato, a transferência do acervo particular da família Matsuyama para os domínios da Prefeitura Municipal (Gregory e Schallenberger, 2008: 322 e 323).

 

Museu das Cataratas

Para atender a encomenda da administração do museu de Foz do Iguaçu, Alfredo Krause passou a residir num espaço disponibilizado pelo pessoal do parque, até finalizar a demanda. “Sim, morava e caçava no parque. Ele vinha seguidamente para casa em Rondon” (Krause, 2024).

Sabe-se que o museu se encontra fechado, no momento, sem se saber ao certo como está a conservação das peles taxidermizadas, se elas ainda ali se encontram e porque a exposição está desabilitada.

 

Vivacidade artística

Além da taxidermia, o pioneiro delineava também a sua verve em modelar artisticamente exemplares da avifauna.

“Meu pai, para uma das primeiras festas do município (de Marechal Cândido Rondon), moldou uma cegonha, de quase dois metros de altura, para o carro alegórico do Hospital Filadelfia, do Dr. Seyboth. O caminhão desfilou com todas as crianças nascidas neste hospital” (Krause, 2024). – FOTOS 5 e 6 --

A isso se somava a fascínio pela música, gosto transmitido pelo lado materno, Woff⁹ e Zimmermann. “Em Santa Catarina, meu pai tinha um conjunto musical e quando chegou de mudança na atual cidade de Marechal Cândido Rondon não relegou a arte. Logo fez parte de grupos musicais, com destaque para a Orquestra de Trombones da Igreja Evangélica Martin Luther, onde participou até mudar-se para o Paraguai”, relata o filho (Krause, 2024). – FOTO 7 --

Segundo Pawelke, o coro de trombones foi fundado em 20 de janeiro de 1963 (Pawelke, 1970: 76).

A informação de Clecio é confirmada pelo músico rondonense Wilmuth Cassel, dono do famoso grupo musical “Os Vikings” (atualmente, não mais existente) e colega do pioneiro no grupo de trombones: “Sim, ele integrou a orquestra. Estivemos juntos” (Cassel, 2024).

 

Vinda para Marechal Cândido Rondon 

Alfredo Krause veio pela primeira vez a Marechal Cândido Rondon para conhecer a região em 1951. Segundo informação do filho Clécio, morador há 34 anos na cidade de Naranjal, no Paraguai, seu pai logo se agradou com o que viu e se cogitava para o futuro.

"O pai gostou tanto do projeto de colonização da Maripá que voltou a Piratuba, em Santa Catarina, e tratou logo de mudar-se para o Paraná. O que acontece no ano seguinte. Meus pais com minha irmã Erci¹ᵒ chegaram de mudança em Marechal Cândido Rondon no dia 24 de julho de 1952, após 18 dias de viagem. Por causa de chuvas, o caminhão com a mudança ficou atolado durante quinze dias numa estrada, no município de Chopinzinho, no Sudoeste do Paraná. Eu nasci em Marechal Cândido Rondon em 06 de novembro de 1953”, lembra ele. –- FOTO 8 --

Ao chegar à vila de General Rondon, a família foi morar no barracão comunitário da Maripá e meses depois numa residência próxima à atual Cadeia Pública, onde permaneceu até 1955, quando concluiu a moradia própria junto à chácara que adquiriu, onde hoje está instalada a revendedora Chevrolet, à Avenida Irio Jacob Welp.

Alfredo Krause nasceu em Canela (RS), em 19 de dezembro de 1919, filho de Maria (nascida Wolff) e Rudolfo Krause. Aos 12 anos, mudou-se com seus pais para Piratuba (SC), fixando residência na localidade de Filadélfia. Ali casou-se com Elli Arndt, filha de Edmundo Emilio Arndt e Amália Diesel (irmã do pioneiro rondonense Afonso Diesel), em 04 de outubro de 1947.

Em Marechal Cândido Rondon, paralelamente à profissão de taxidermista ― a sua grande especialidade –, Alfredo Krause foi fotógrafo até 1955. Muitas imagens do começo da vila General Rondon são de seu crédito. – FOTOS 9 e 10 --

 

Viagem à Amazônia

Em setembro de 1961 o pastor Richter, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), da qual a comunidade Martin Luther, de Marechal Cândido Rondon, é integrante, por recomendação de seus superiores começa no Norte do Mato Grosso uma obra missionária junto aos índios Erigpactsa, às margens do Rio Juruena, distante mil quilômetros de sua foz no Rio Amazonas.

Joachim Pawelke, pastor da referida comunidade religiosa, em 1964 é incumbido pela direção da IECLB de acompanhar o pastor Richter e realizar uma reavaliação do projeto de evangelização da Igreja na bacia amazônica.

A propósito de como encontrou a obra missionária, o pastor rondonense relata: “O Posto Missionário; uma clareira de 5 hectares, aberta no meio da mata virgem. A terra é cultivada com milho, mandioca, bananeira, algumas espécies de árvores frutíferas e pés de eucaliptos. Das ‘13’ habitações, cinco são de pau-a-pique, o telhado é coberto de folhas de palmeira. O restante é feito totalmente de folhas. Fora o administrador, um velho seringueiro, encontramos ainda três crianças indígenas. Há um ano moravam aqui no posto 50 pessoas. Após a saída do pastor Richter e seu colaborador, os índios se retiraram outra vez para o interior da mata, ou foram levados para uma missão católica ou a um posto de americanos evangélicos" (Pawelke, 1970: 74 e 75) 

Por causa dos enormes sacrifícios e os altos custos que representava a manutenção da obra missionária entre os Erigpactsa, a IECLB decidiu fechar o posto em 1969, conforme descreve Pawelke: “a tribo dos erigpactsa vive numa região de cerca de 500 km de diâmetro. Por coincidência, os católicos e evangélicos começaram a missionar a mesma tribo, cada uma num extremo diferente. Para não causar cisão religiosa entre os indígenas a nossa Igreja resolveu, em combinação com os jesuítas em São Leopoldo, entregar o posto evangélico à missão católica. Desta forma a nossa Igreja pode concentrar todo o seu esforço e atenção para a reserva indígena existente em Tenente Portela, onde há um trabalho muito frutífero" (Pawelke, 1970: 182).

A primeira viagem do pastor Joachim Pawelke e comitiva ao Rio Juruena foi organizada a partir de Marechal Cândido Rondon: "partida de Rondon com a Combi (sic) da Missão. Participante da viagem: Pastor Richter, o preparador de um museu, um menino índio e eu” (Pawelke, 1970: 72)

O preparador a que se refere Pawelke era o rondonense Alfredo Krause, informa o filho Clécio Krause. Segundo ele, seu pai viajou à bacia amazônica em duas ocasiões: em 1964 acompanhando a comitiva do pastor Pawelke; e a segunda, em 1966, sozinho, ao Rio Machado, em Rondônia.

Nas duas viagens foi em busca de animais para serem taxidermizados, em especial para a coleção do Museu Sete Quedas, em Guaíra, ao qual prestava serviços. Alguns exemplares também foram para outras instituições e particulares. “Durante as viagens à região da bacia amazônica, meu pai coletou espécimes ainda desconhecidas, as quais foram descritas cientificamente a partir dos exemplares por ele coletados” (Krause, 2022). – FOTO 11 --

 

Mudança para o Paraguai

O intenso desflorestamento no começo da década de 1970, na região do Oeste do Paraná, desencadeada pela tecnificação da agricultura, projetada para alta produtividade, deixou Alfredo Krause praticamente sem animais para taxidermizar e, de via, sem viabilidade econômica. Mudou-se para o Paraguai, localidade de Maracaju, onde ainda existiam extensas florestas e profusão de animais, especialmente aves. Todavia, menos de 10 anos depois, a mecanização e cultivo intensivo também chegaram ao Paraguai, devastando imensidões de matas, transformadas em áreas de cultivo (Krause, 2024).

Sem opção de se manter economicamente com a taxidermização de animais, Alfredo Krause decidiu pela abertura de uma casa de comércio na cidade paraguaia de Naranjal, de colonização brasileira, principalmente de migrantes rondonenses. Não mais trabalhou na preparação de peles, confirma Krause filho.

 

Retorno ao Brasil

O pioneiro rondonense manteve-se na atividade comercial no Paraguai até o começo da década de 1990, ano em que encaminhou a documentação para aposentadoria, o que se concretizaria meses depois (Krause, 2024).

No começo de 1992, já aposentado, Alfredo Krause e esposa decidem voltar a morar no Brasil. Adquirem um terreno com casa na atual cidade de Pato Bragado, onde fixam residência. Na época a condição financeira do casal não mais permitia a compra de imóvel em Marechal Cândido Rondon, por causa do alto valor imobiliário (Krause, 2024).

Como exímio músico, Krause passou a integrar a banda musical do seu novo local de moradia. Para participar do grupo, o músico foi admitido depois de fazer um teste com o maestro e ter a concordância de ingresso dos demais integrantes da banda. Uma vez admitido, o componente recebeu uma subvenção mensal de aproximadamente 1/3 do salário-mínimo (Scheuermann, 2024).

Em Pato Bragado¹¹, o pioneiro não voltou a dedicar-se à taxidermia, arte que havia deixado de trabalhar há mais de 10 anos, ainda no Paraguai. “O meu avô não empalhou aves aqui”, revela a neta Kátia Acuna, moradora na mencionada cidade (Acuna, 2024).

Outro que afirma que Alfredo Krause não trabalhou com taxidermia em Pato Bragado é Delmar Fincke, ex-secretário municipal das pastas de Agricultura; de Assuntos Comunitários; e de Viação e Obras Públicas, além de ex-vereador e presidente da Câmara Municipal de Pato Bragado. (Fincke, 2024).

 

Fim da vida

O uso continuado de arsênico no trabalho de taxidermia provocou ao longo do tempo consequências severas na saúde do pioneiro Alfredo Krause, atingindo principalmente o sistema respiratório, cujas sequelas o levaram à morte em 22 de julho de 2005, aos 72 anos. Seu corpo está sepultado no cemitério municipal de Pato Bragado. A sua esposa Elli faleceu em 05 de abril de 2016 e está sepultada também no cemitério bragadense (Krause, 2024).

 

¹ In: Randonnaz, Village Dispari, de Christophe Bolli, Sierre, Valais, Suíça, 1995, p. 82, citado por Adonir Valdir Fauth, em A Imigração Suíço-Valesana no Rio Grande do Sul. Santa Cruz do Sul: [s.e], 2000, p. 7 – 1º volume).
 

² A cidade de Marechal Cândido Rondon surgiu a partir de 1950 dentro da perspectiva da colonizadora² de instalar núcleos urbanos centrais e menores de apoio, para prover de diversos ofícios e itens necessários os povoadores em sua faina diária; e escolas e igrejas, estas consideradas essenciais pelo colono para vir instalar-se na nova frente de povoamento (Gregory, op.cit., 118).
 

³ Trata-se da colonização da antiga Fazenda Britânia que pertenceu a empresa anglo-argentina Cia. de Maderas del Alto Paraná, com sede em Buenos Aires. A vasta propriedade de aproximadamente de 242 mil hectares foi adquirida pela empresa Industrial Madeireira e Colonizadora Rio Paraná S.A. (abreviada Maripá), com dois objetivos: comercializar o potencial madeireiro e dividir a grande área em pequenos lotes e vendê-lo, de forma seletiva, para agricultores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. (Niederauaer, op.cit., p. 50 e 71 72).
 

⁴ Guaíra surgiu em 1903 pela viabilidade econômica considerada pela Companhia Matte Laranjeira em exportar a erva-mate colhida na banda oriental do atual Mato Grosso do Sul, via Rio Paraná, para os moinhos argentinos. O nome inicial da localidade foi Porto Mojoli, em homenagem a Francisco Mojoli, que negociou com o Governo do Paraná a concessão de 5 mil hectares de terras para a empresa ervateira, conhecida como “Concessão Paraná”.
A companhia Matte Laranjeira tem sua origem na casa de comércio fundada pelo catarinense Tomaz Laranjeira (1840-1911), de Laguna, na cidade de Concepción, Paraguai, onde se estabeleceu após o fim da Guerra da Tríplice Aliança. Os negócios com erva-mate o levaram a conhecer as imensidões dos ervais do atual Mato Grosso do Sul. Requereu do Império Brasileiro a concessão para a sua ex
ploração (Magalhães, op.cit., p. 23, 24, 66 e 67).

 

 ⁵ Médico, nascido em Estrela (RS), seguiu com a família ainda criança para a Alemanha, onde graduou-se em Medicina (Municipal, 2021). Obteve o título de doutor pela Universidade Würzburg, em 1944 (Rondonense, Memoria. Calendário Histórico [s.d].
Ao final da Segunda Guerra Mundial, com a Alemanha arrasada, optou por reemigrar para seu país de origem, com a esposa e os dois filhos. Antes de vir para Marechal Cândido clinicou no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ao tempo que revalidou o seu diploma na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Rondon, 2021).
Chegou de mudança em Marechal Cândido Rondon em 1953. Instalou o primeiro hospital na cidade (Saatkamp, Venilda. 1984, p. 49).

 

⁶ Professor doutor Omar Fedato Aleksiejuk é engenheiro de produção pela UFSC, mestre em Gestão de Instituições de Ensino Superior, especialista em Metodologia em Ciência, licenciado em Letras, é museólogo, e estatístico (Vendrusculo, 2024).
 

⁷ Costumeiramente moradores do município e municípios circunvizinhos não citam a cidade de Marechal Cândido Rondon. Mas tão somente “Rondon” (nota do pesquisador).
 

Soares reporta que a senhora “Geny” é nascida em Los Angeles (EUA) e veio a Guaíra em 1957, acompanhando o esposo contratado como corretor da Companhia Matte Laranjeira. (op. cit., 13)
 

 ⁹ Tem linha parental com o famoso violinista catarinense Simão Wolff, que é natural de Ipira, município catarinense vizinho de Piratuba (Krause, 2024).
 

¹⁰ Hoje reside em Puente Kihja, Paraguai, e é casada com Pedro Acuna, nascido em Pato Bragado (Krause, 2024).
 

¹¹ Pato Bragado tem sua origem no contexto de criação de 28 vilas de apoio aos povoadores da antiga Fazenda Britânia, projeto liderado pela empresa Maripá. As primeiras casas foram construídas em 1954. Com o desenvolvimento e a prosperidade que a localidade atingiu nos anos supervenientes, a antiga vila passou de sede distrital para a emancipação, fato que se confirmou pela Lei Estadual nº 9.299, de 19 de junho de 1990. Seus limites fronteiriços foram definitivamente estabelecidos pela Lei Estadual nº 9.664, de 16 de junho de 1991 (Gregory, Valdir; Myskiw, Antonio Marcos; Gregory, Lúcia, Teresinha Macena, 2004, p. 73, 78 e 87.
 

Fontes consultadas:

1. Niederauer, Ondy Hélio. Toledo no Paraná: A história de um latifúndio improdutivo sua reforma agrária sua colonização seu progresso. Toledo: Tolegraf, Impressos Gráficos Ltda., 2011, p. 50 e 72 – 3ª edição (Revisada e ampliada).

1. Pawelke, Joachim. Ficando Rico no Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon: [s.e.], outubro de 1970 – 1ª edição.

2. Straube. Fernando C; Urben-Filho, Alberto. Comentários e retificações sobre o único registro de Morphnus guianensis (Daudin. 1800) para o Paraná. Atualidades Ornitológicas Nº 157 - Setembro/Outubro 2010 - www.ao.com.br.

3.Gregory, Valdir & Schallenberger, Erneldo. Guaíra: Um mundo de águas e histórias. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica Ltda., 2008.

4. Gregory Valdir. Os Eurobrasileiros e o Espaço Colonial: Migrações no Oeste do Paraná (1940-1970). Cascavel: Edunioeste, 2008, p. 118.

5. Gregory, Valdir; Myskiw, Antonio Marcos; e Gregory, Lúcia Teresinha Macena. Porto Britânia a Pato Bragado: Memórias e Histórias. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica Ltda., 2004.

6. Magalhães, Luiz Alfredo Marques. Retratos de uma Época: Os Mendes Gonçalves & A Cia. Matte Laranjeira. Campo Grande: Gráfica e Editora Alvorada, 2013 – 2ª edição.

6. Memória, Rondonense. Calendário Histórico de 12 de Agosto.  Disponível em: http://memoriarondonense.com.br/calendario-historico-single/08/12/. Acesso em 31.10.2024.

7. Rondon, Câmara Municipal de Marechal Cândido. Centro Integrado de Saúde receberá nome do médico pioneiro Friedrich Seyboth. Disponível em: https://www.marechalcandidorondon.pr.leg.br/institucional/noticias/centro-integrado-de-saude-recebera-nome-do-medico-pioneiro-friedrich-seyboth#:~:text=Os%20vereadores%20Cristiano%20Metzner%20(Suko,Centro%20Integrado%20de%20Sa%C3%BAde%20%E2%80%93%20CIS. Acesso em 05.11.2024.

8. Soares, Daniella Feteira. As camadas da paisagem: lembranças sobre os Saltos de Sete Quedas. Disponível em: http://www.ecsb2007.ufba.br/layout/padrao/azul/ecsb2007/arquivos_anteriores/st6_14.pdf. Acesso em 08.08.2024.

 

Fontes informativas:

 

1. Acuna, Kátia. [Serviços de taxidermia de Alfredo Krause em Pato Bragado]. WahtsApp. 07 nov 2024. 11:10. 1 mensagem WahtsApp.

2. Cassel, Wilmuth. [Alfredo Krause e côro de trombones]. WhatsApp. 08 nov. 2024. 10:43. 1 Mensagem WhatsApp.

3. Fincke, Delmar. [Serviços de taxidermia de Alfredo Krause em Pato Bragado]. WahtsApp. 07 nov 2024. 11:47. 1 mensagem WahtsApp.

4. Krause, Clecio. Histórico de Alfredo Krause. Naranjal, 25 jul 2016. 21:16.Facebook: Clecio Krause. https://www.facebook.com/clecio.krause. 1 mensagem Facebook.

5.Krause, Clecio. Histórico de Alfredo Krause. Naranjal, 07 Ago 2024. 09:47. Facebook: Clecio Krause. https://www.facebook.com/clecio.krause. 1 mensagem Facebook.

6.Krause, Clecio. Histórico de Alfredo Krause. Naranjal, 07 Nov 2014. 15:15. Facebook: Clecio Krause. https://www.facebook.com/clecio.krause. 1 mensagem Facebook.

7.Krause, Clecio. Histórico de Alfredo Krause. Naranjal, 09 Dez  2014. 09:42. Facebook: Clecio Krause. https://www.facebook.com/clecio.krause. 1 mensagem Facebook.

5. Kleemann, Cleci. [Alfredo Krause]. WhatsApp.: 05 nov. 2024. 15:43. 1 Mensagem WhatsApp.

6.Schneider, Ilga. [Alfredo Krause]. WhatsApp. 05 nov. 2024. 15:38. 1 Mensagem WhatsApp.

7. Scheurmann, Cris (Secretária de Educação e Cultura de Pato Bragado) [Alfredo Krause e banda municipal]. WhatsApp. 06 nov. 2024. 13 13; 16:57. 2 mensagens WhatsApp.

8. Seyboth, Dietrich Rupprecht [Alfredo Krause]. Whatsapp. 06 ago. 2024. 12:59. 1 Mensagem WhatsApp.

9. Vendrusculo, Ermínio. [Alfredo Krause e a formação do acervo do Museu Sete Quedas]. Whatsapp. 02 ago. 2024. 12:01; 14 ago. 2024. 16:58; 06 nov. 2024. 18:09. 10 mensagens WhatsApp.

 

*O texto original sobre Alfredo Krause, foi publicado com outro título na coluna do jornalista Harto Viteck, no jornal O Presente, de Marechal Cândido Rondon, nas edições de 14 e 21.10.2016, p. 04.

O presente texto foi revisto e ampliado no segundo semestre de 2024.

 

 

 

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