"A gente era tão pobre que meus pais não tinha dinheiro para pagar a mudança para o Paraná (...) "
Chegou de mudança à principiante vila de General Rondon, junto com os pais e irmãos, em 1952. Ao falar da transferência para o Paraná, Nair Klauck adianta que sua família era bastante carente no Rio Grande do Sul. Seus pais, Hilda (nascida Hentges) e Inácio Klauck¹ cuidavam de um salão de baile no município de Crissiumal, numa localidade entre os arroios Remo e Lageado Magro. Nos dias de menos serviço, o pai trabalhava como pedreiro ou, conforme a situação, de carpinteiro.
¹ São filhos do casal, além de Nair: Elio Sergio, mora em Foz do Iguaçu; Gladis, casada com Hilário Fariña, reside no Paraguai; e Liane, que foi casada com Décio Carlos Schütz, mora em Marechal Cândido Rondon.
Nair Klauck explica que seus pais não tiveram dinheiro para pagar a mudança ao Paraná. Os poucos pertences que possuíam foram ajeitados entre os equipamentos e a máquina à vapor no caminhão contratado pelo senhor Rinaldo Ludwig para trazer o maquinário a Marechal Cândido Rondon, onde este instalou a primeira serraria. A pioneira também relata que toda a família se acomodou na carroceria do mesmo veículo.
Devido à cheia do Rio Iguaçu, Nair lembra que a viagem de mudança levou 11 dias. “Foi uma dificuldade bastante grande. A gente não esperava que demorasse tanto para chegar, a gente não tinha se preparado para o imprevisto”, comenta a pioneira.
Em General Rondon, ao chegarem, a mudança foi descarregada junto ao alojamento² da colonização da Maripá. Neste local a família residiu por 14 dias, mudando-se depois para Quatro Pontes, onde o pai, segundo a filha, começou a trabalhar como carpinteiro e, em outros momentos, com pedreiro, de acordo como apareciam as solicitações de serviços, por parte dos moradores locais.
² Era um grande barracão, com diversas divisões, para abrigar um determinado número de mudanças de pioneiros, que vinham sem antes ter um local próprio para residir.
Depois de algumas semanas de residência em Quatro Pontes, segundo a pioneira, ela foi procurada pelo casal Paulina e Alfredo Nied com a proposta de trabalhar com eles, como empregada doméstica. Ainda com um certo ar de satisfação, Nair conta: “Aceitei logo porque as dificuldades e a carestia junto à minha família eram bastante grandes. Assim, me tornei a primeira empregada doméstica contratada por uma família, em Marechal Cândido Rondon, no período da colonização. Fiquei trabalhando com os Nied por mais de 12 anos. Mesmo quando me casei como o Lauro Weirich, que também era empregado deles, como motorista de caminhão, nós permanecemos trabalhando com os Nied”.
Com uma certa dose de saudosismo, a pioneira segue explicando que foi muito bom trabalhar com os Nied, casal que instalou a primeira casa comercial em Marechal Cândido Rondon, em 1951: “Fiz todo tipo de serviço que compete para uma mulher: limpar e arrumar a casa, lavar as roupas, cozinhar, banho nas crianças e nas horas de menos serviço dentro de casa, ia ajudar na loja. Como eu era meio analfabeta, a Dona Paulina me ensinou como pesar mercadorias e fazer contas”.
"Também fiz muito pão com schimier e nata para os filhos do Dr. Seyboth, o Hippi, o Dieter e o Matias e turminha que frequentavam muito a casa dos Nied. Eram amigos do Walmor³ e do João Pedro”, revive a pioneira com um sorriso."
³ É filho do casal Paulina (nascida Kalkmann) e Alfredo Nied, ambos casados em segundas núpcias; e João Pedro é filho da senhora Paulina, fruto de seu primeiro casamento com Theobaldo Hofmeister.
Alfredo Nied também teve uma filha, Sueli, de seu primeiro matrimônio com Selma Berghan.
Quanto ao seu casamento com Lauro Weirich, Nair relata que o civil foi na cidade de Toledo, em 12 de março de 1954 e foi o assentamento de nº 50, no Livro 1. A celebração religiosa ocorreu no dia 31 do mesmo mês, na Igreja Evangélica Martin Luther, oficiada pelo pastor Karl Maehler, pároco na cidade de Toledo. Como era católica e o noivo evangélico, a pioneira optou por se tornar evangélica.
Nair explica que o primeiro presidente da Igreja Evangélica Martin Luther foi o senhor Aldo Colombelli, primeiro gerente da filial 1, do então Empório Toledo, que ficava em Marechal Cândido Rondon.
A primeira doméstica ou secretária do lar, como hoje se conhece, descreve que o quarto do casal passou a ser uma dependência, bem ajeitada antes, no barracão que ficava no fundo da residência do casal Nied.
“A gente não precisou nada mais que isso, porque refeições e outras coisas, como banho, a gente fazia na casa dos Nied. A gente era como da família”, comenta a pioneira.
Como curiosidade, Nair repassa também que o seu esposo, após chegar de mudança a General Rondon, foi trabalhar como ajudante do agrimensor Henrique Scheidt, na medição dos lotes do espaço que hoje compõe a parte pioneira e central da cidade de Marechal Cândido Rondon; e semanas depois na medição dos lotes do núcleo pioneiro da atual sede municipal de Mercedes. “Somente depois ele foi procurado pelo “seo” Nied e contratado por ele”.
Perguntada sobre os passatempos e diversões que os jovens tinham naqueles tempos pioneiros, ela fala: “A gente andava pelas ruas, muitas recém-abertas, conversando, fazendo brincadeiras. Acompanhei muito a juventude da Primeira Igreja Batista, que saía da igreja até a Sanga Matilde Cuê, onde ficava a serraria do “seo” Pydd e retornava, sempre cantando”.
Recorda também das muitas visitas que eram feitas, aos domingos, a Porto Britânia, Porto Mendes e ao Rio Branco. “Em Porto Mendes, onde ficava a Fazenda Allica, a gente colhia muita goiaba, laranja e laranja-apepú. No Rio Branco, tinha um resto da fábrica que extraía essência de erva-cidreira. Em Porto Britânia, eu ficava admirada com as casas bonitas e bem-feitas, com vasos sanitários; o chafariz; e o grande relógio⁴ no escritório, que não precisava de corda”.
⁴ Onde será que foi parar este relógio interessante e histórico?
O casal Nair e Lauro Weirich deixou de trabalhar com os Nied quando ele foi convidado pelo senhor Arlindo Alberto Lamb, primeiro prefeito eleito de Marechal Cândido Rondon, para ser o diretor de Viação e Obras Públicas do município. Permaneceu no cargo até o final do mandato do prefeito.
A saída do emprego anterior também fez o casal mudar de residência. Adquiriu uma moradia que ficava em frente à atual (04.06.2018) sede do Sindicato Rural Patronal de Marechal Cândido Rondon, à Rua D. João VI.
Com o fim da administração do primeiro prefeito, Lauro Weirich foi convidado por este para gerenciar a sua cerâmica em Pato Bragado.
Com a venda da olaria anos depois, o casal mudou-se para o Mato Grosso do Sul, onde, em propriedade própria, manteve atividades agropecuárias.
No começo de 2000, o casal retornou de mudança à Marechal Cândido Rondon, onde o pioneiro faleceu em 11 de fevereiro de 2011.
A senhora Nair Klauck, atualmente (06.06.2018) reside com a filha Margaret, à Rua Mem de Sá.
São filhos do casal:
- Valdir Sérgio (falecido)
- Milton Alberto
- Vilson Willy
- Margaret Cristina
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